“FRATELLI TUTTI”, TERCEIRA ENCÍCLICA DO PAPA FRANCISCO, TRATARÁ DA FRATERNIDADE E DA AMIZADE SOCIAL

16/09/2020 08:09
8 minutos de leitura
“FRATELLI TUTTI”, TERCEIRA ENCÍCLICA DO PAPA FRANCISCO, TRATARÁ DA FRATERNIDADE E DA AMIZADE SOCIAL

“Fratelli Tutti” é o título que levará a terceira encíclica do Papa Francisco a ser lançada dia 3 de outubro, no túmulo de São Francisco de Assis, na Itália. Ela será dedicada, como se lê no subtítulo, à “fraternidade” e à “amizade social”.  Muito se tem discutido sobre o título do novo documento do Papa e sobre como traduzi-lo em um sentido inclusivo.

Segundo editorial publicado neste dia 16 de setembro no VaticanNews, Francisco escolheu as palavras do santo de Assis para inaugurar uma reflexão sobre um tema com o qual se preocupa muito como a fraternidade e a amizade social e por isso pretende se dirigir a todas as suas irmãs e irmãos, todos os homens e mulheres de boa vontade que povoam a terra.

Enquanto esperamos para conhecer o conteúdo desta mensagem, que o Sucessor de Pedro pretende dirigir a toda a humanidade, nos últimos dias assistimos a discussões com relação à única informação disponível, ou seja, o título e seu significado. A Sala de Imprensa da Santa Sé anunciou hoje, 16 de setembro, que o texto será publicado no dia 4 de outubro

Segundo Andrea Tornielli, em editorial publicado no VaticanNews, o título original em italiano permanecerá assim – portanto sem ser traduzido – em todos os idiomas em que o documento for distribuído. As primeiras palavras da nova “carta circular” (este é o significado da palavra “encíclica”), segundo o editorial, são inspiradas no grande santo de Assis cujo nome o Papa Francisco escolheu para marcar seu magistério.

“Como é uma citação de São Francisco (encontrada nas Admoestações, 6, 1: FF 155), o Papa obviamente não a alterou. Mas seria absurdo pensar que o título, em sua formulação, contenha qualquer intenção de excluir de seus destinatários mais da metade dos seres humanos, ou seja, as mulheres”, diz o editorial.

Tempo marcado

“A todos, de uma forma inclusiva, jamais exclusiva. Vivemos em um tempo marcado pelas guerras, pobreza, migração, mudança climática, crise econômica, pandemia: reconhecer-nos como irmãos e irmãs, reconhecer em quem encontramos um irmão e uma irmã; e para os cristãos, reconhecer no outro que sofre o rosto de Jesus, é uma forma de reafirmar a dignidade irredutível de todo ser humano criado à imagem de Deus. E é também uma maneira de nos lembrar que nunca poderemos sair sozinhos das dificuldades atuais, um contra o outro, Norte contra Sul, ricos contra pobres”, diz o editorial.

Em 27 de março passado, em meio à pandemia, o Bispo de Roma rezou pela salvação de todos numa Praça de São Pedro vazia, sob uma chuva torrencial, acompanhado apenas pelo olhar doloroso do Crucifixo de São Marcelo e pelo olhar amoroso de Maria Salus Populi Romani. “Com a tempestade – disse Francisco – caiu a maquiagem dos estereótipos com que mascaramos o nosso ‘eu’ sempre preocupado com a própria imagem; e ficou a descoberto, uma vez mais, aquela (abençoada) pertença comum à qual não podemos nos subtrair: a pertença como irmãos”. O tema central da carta papal é esta “pertença comum abençoada” que nos torna irmãos e irmãs.

Fraternidade e amizade social, os temas indicados no subtítulo, indicam o que une homens e mulheres, um afeto que se estabelece entre pessoas que não são parentes consanguíneos e se expressa através de atos benevolentes, com formas de ajuda e ações generosas nos momentos de necessidade. Uma afeição desinteressada para com outros seres humanos, independente de qualquer diferença e pertença. Por esta razão, não são possíveis mal-entendidos ou leituras parciais da mensagem universal e inclusiva das palavras “Fratelli tutti”.

O que são os irmãos para Francisco de Assis?

São Francisco de Assis e o Sultão do Egito Al Kamil em 1219.

Segundo Alessandro Gisotti, em artigo publicado no VaticanNews, uma resposta uma resposta íntima e reveladora sobre quem são os irmãos de São Francisco de Assis é encontrada no início de seu Testamento, onde, após narrar o encontro com os leprosos – aos quais Cristo o conduziu, porque tinha aversão a eles – afirma: “E depois que o Senhor me deu os frades, ninguém me mostrava o que deveria fazer, mas o próprio Altíssimo me revelou que eu deveria viver de acordo com a forma do Santo Evangelho”.

“O que emerge claramente em Francisco de Assis, e que encontra confirmação neste escrito fundamental na parábola conclusiva de sua vida terrena, é que para ele a fraternidade não é uma ideia, uma teoria abstrata, mas um fato concreto, uma experiência que muda a vida. Além deste fato da realidade, e ainda mais relevante porque é a fonte, descobrimos que para Francisco não há fraternidade se não reconhecermos (e não aceitarmos) a filiação comum do Pai celeste. Somos todos irmãos porque somos todos filhos do mesmo Pai. Portanto, ninguém é mais estrangeiro do que o outro”, afirmou no artigo.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/