Saiba como será a dinâmica da segunda sessão do Sínodo dos Bispos que trata o tema da sinodalidade na Igreja

20/09/2024 07:09
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Saiba como será a dinâmica da segunda sessão do Sínodo dos Bispos que trata o tema da sinodalidade na Igreja

Aproxima-se a segunda sessão do Sínodo dos bispos que trata o tema “Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão”, num longo processo de escuta iniciado em 2021. A sua organização foi apresentada no dia 16 de setembro.

A XVI Assembleia Sinodal decorrerá de 2 a 27 de outubro, mas os dias anteriores vão ser lugar de retiro. Grande atenção para a celebração penitencial de dia 1º de outubro na qual vão ser escutados testemunhos de pessoas que sofreram o pecado dos abusos, da guerra e da indiferença.

Destaque no programa para algumas atividades especiais:
– Dia 11 de outubro, na data dos 62 anos da abertura do Concílio Vaticano II, será organizada pela Comunidade de Taizé, uma vigília ecuménica;

– Nos dias 9 e 16 de outubro haverá fóruns teológico-pastorais sobre temas como o papel da autoridade do bispo numa Igreja sinodal e a relação entre Igreja-local e Igreja-universal;

– Dia 21 de outubro será de novo tempo para retiro espiritual implorando ao Senhor os seus dons para a elaboração do documento final do Sínodo.

O essencial do Instrumento de Trabalho

Recordemos aqui o essencial do Instrumentum Laboris (instrumento de trabalho – IL ) para a segunda sessão desta Assembleia Sinodal. O coração deste documento apresenta três partes com elementos essenciais da dinâmica sinodal: Relações, Percursos e Lugares.

Escuta e diálogo
Instrumentum Laboris tem como título “Como ser Igreja sinodal missionária”. O documento é a base consolidada de três anos de um caminho de reflexão, de escuta e de discernimento nas comunidades eclesiais de todo o mundo.

O texto sinodal recorda as “etapas diocesanas, nacionais e continentais, num diálogo contínuo impulsionado pela Secretaria Geral do Sínodo através de documentos de síntese e de trabalho”.

A primeira sessão da assembleia sinodal em 2023, com o seu Relatório de Síntese abriu caminho a uma consulta posterior às Igrejas locais, a partir de uma questão orientadora: “Como ser Igreja sinodal em missão?”.

Este documento agora publicado será a base para a segunda sessão do Sínodo. Um ponto de chegada, mas também de partida, que prepara a aplicação da dinâmica sinodal na Igreja.

O processo não termina em 2024

“As duas Sessões não podem ser separadas e muito menos opostas: decorrem em continuidade e sobretudo fazem parte de um processo mais amplo que, de acordo com as indicações da Constituição Apostólica Episcopalis communio, não terminará no final de outubro de 2024”, recorda a introdução do IL assinalando o “caminho de conversão e de reforma que a Segunda Sessão convidará toda a Igreja a realizar”.

“Estamos ainda a aprender como ser Igreja sinodal missionária, mas é uma missão que experienciámos poder empreender com alegria”, diz o texto.

O documento destaca especialmente a importância da metodologia sinodal da Conversação no Espírito, no caminho percorrido até ao momento.

Continuar a reflexão sobre o diaconado feminino
De destacar neste documento da Secretaria Geral do Sínodo “os aspetos da vida da Igreja abertos à participação das mulheres”, sendo referido que “frequentemente não são utilizadas” todas essas possibilidades de participação.

É afirmado que em algumas culturas há ainda uma clara “presença do machismo, sendo necessária uma participação mais ativa das mulheres em todos os setores eclesiais”. Recorda o Papa Francisco quando afirma que a perspetiva das mulheres “é indispensável nos processos decisórios e na assunção de funções nas diversas formas de pastoral e de missão”.

A este propósito, o IL informa que o tema do diaconado feminino “não será objeto dos trabalhos da Segunda Sessão”, sendo apontado que se “prossiga a reflexão teológica, com tempos e modalidades adequados”. Confia esse trabalho de amadurecimento a um dos grupos de estudo já em funcionamento no âmbito sinodal e que continuarão ativos em 2025.

Por uma conversão das “relações”
A Parte I do IL dedica-se às “Relações” e afirma que “ao longo de todo o processo sinodal e em todas as latitudes emergiu a exigência de uma Igreja não burocrática, mas capaz de nutrir as relações”.

O texto salienta que “a sinodalidade, enquanto exigência da missão, não é entendida como um expediente organizativo, mas sim vivida e cultivada como o conjunto das formas segundo as quais os discípulos de Jesus tecem relações solidárias, capazes de corresponder ao amor divino que continuamente os reúne e que são chamados a testemunhar nos contextos concretos em que se encontram”.

“Compreender como ser Igreja sinodal em missão passa, portanto, por uma conversão relacional, que reoriente as prioridades e as ações de cada um, nomeadamente daqueles que têm a missão de animar as relações ao serviço da unidade, no concreto de uma partilha de dons que liberta e enriquece todos”, refere o texto.

Especial destaque nesta parte do documento para o encontro “Párocos pelo Sínodo” que decorreu este ano no Vaticano e no qual foi sugerida “uma compreensão renovada do Ministério ordenado no horizonte da Igreja sinodal missionária”.

Propõe uma reflexão sobre “as relações, estruturas e processos que podem favorecer uma visão renovada do Ministério ordenado, passando de um modo piramidal de exercitar a autoridade para um modo sinodal”, revela o texto.

“No âmbito da promoção dos carismas e ministérios batismais, é possível implementar uma reativação das funções cuja execução não exige o sacramento da Ordem. Uma distribuição mais articulada das responsabilidades poderá indubitavelmente favorecer também processos decisórios caracterizados por um estilo mais claramente sinodal”, refere o documento.

“Percursos” de formação, discernimento e decisão
A Parte II – Percursos, “põe em evidência os processos que asseguram o cuidado e desenvolvimento das relações, em particular a união a Cristo com vista à missão e à harmonia da vida comunitária, graças à capacidade de enfrentar em conjunto conflitos e dificuldades”.

Destaque especial para a importância da formação. “Para muitos, a participação nos encontros sinodais constituiu uma ocasião de formação sobre o conhecimento e a prática da sinodalidade”. Ou seja, conhecer o “modo como o Espírito atua na Igreja e a guia ao longo da história”, diz o texto.

“Não pode ser uma formação exclusivamente teórica”, alerta o IL, assinalando “a necessidade de uma formação comum e partilhada, na qual tomem parte homens e mulheres, Leigos, Consagrados, Ministros ordenados e Candidatos ao Ministério ordenado, permitindo assim aumentar o conhecimento e a estima recíprocos, bem como a capacidade de colaboração”.

“Solicita-se igualmente que seja prestada especial atenção à promoção da participação das mulheres nos programas de formação, ao lado de Seminaristas, Sacerdotes, Religiosos e Leigos”, refere o texto.

O IL refere que “o ponto de partida e o critério de referência de todo o discernimento eclesial é a escuta da Palavra de Deus”. Sustenta que “o discernimento envolve todos, tanto os que participam a nível pessoal como comunitário, exigindo cultivar disposições de liberdade interior, abertura à novidade e abandono confiante à vontade de Deus, e permanecer à escuta uns dos outros, a fim de escutar «o que o Espírito diz às Igrejas»”, diz o documento.

“Um processo de discernimento articula concretamente comunhão, missão e participação. Por outras palavras, é um modo de caminhar juntos.”, salienta o IL.

Especial destaque também neste documento de trabalho para os processos de decisão, sendo sublinhado que na “Igreja sinodal toda a comunidade, na livre e rica diversidade dos seus membros, é convocada para rezar, escutar, analisar, dialogar, discernir e aconselhar na tomada de decisões pastorais”.

Nos “lugares” superar o modelo piramidal

Finalmente, a Parte III do IL dirige a sua atenção aos “Lugares”, no seu registo de contexto e de cultura. “A vida sinodal missionária da Igreja, as relações que a integram e os percursos que asseguram o seu desenvolvimento, nunca podem prescindir do concreto de um ‘lugar’, ou seja, de um contexto e de uma cultura”, diz o documento sinodal.

“Esta Parte III convida-nos a superar uma visão estática dos lugares, que os ordena por níveis ou graus sucessivos (Paróquia, zona, Diocese ou Eparquia, Província Eclesiástica, Conferência Episcopal ou Estrutura Hierárquica Oriental, Igreja universal) segundo um modelo piramidal”, refere.

Segundo o IL, “o anúncio do Evangelho, suscitando a fé no coração dos homens e das mulheres, permite que num lugar se constitua uma Igreja. A Igreja não pode ser compreendida sem implementação num lugar e numa cultura e sem as relações que se estabelecem entre lugares e culturas. Destacar a importância do lugar não significa ceder ao particularismo ou ao relativismo, mas sim valorizar a realidade concreta em que, no espaço e no tempo, se constrói uma experiência partilhada de adesão à manifestação de Deus salvador”.

Especial nota neste documento sinodal para o facto de que “a pertença à Igreja, manifesta-se, atualmente, com um número crescente de formas que não remetem para uma base geograficamente definida, mas para ligações de tipo associativo. Esta variedade de formas é promovida, tendo sempre presente a perspetiva missionária e o discernimento eclesial daquilo que o Senhor pede em cada contexto particular”.

É sublinhada a necessidade de serem valorizados os conselhos paroquiais e diocesanos como “instrumentos essenciais para o planeamento, a organização, a execução e a avaliação das atividades pastorais”.

Estes conselhos podem incluir alguns aspetos de “estilo sinodal”: “podem ser alvo de processos de discernimento eclesial e de processos decisórios sinodais e lugares da prática da prestação de contas e da avaliação de quem exerce cargos de autoridade, sem esquecer que, por sua vez, estas pessoas devem dar conta do modo como desempenham as suas funções”, refere o documento da Secretaria Geral do Sínodo.

No seu penúltimo ponto (111) o IL revela que este documento “interroga-se e interroga-nos sobre como ser uma Igreja sinodal missionária; como nos empenharmos numa escuta e num diálogo profundos; como sermos corresponsáveis à luz do dinamismo da nossa vocação batismal pessoal e comunitária; como transformarmos estruturas e processos de modo a que todos possam participar e partilhar os carismas que o Espírito infunde em cada um para benefício comum; como exercer poder e autoridade como serviço. Cada uma destas perguntas é um serviço à Igreja e, através da sua ação, a possibilidade de curar as feridas mais profundas do nosso tempo”, diz o IL.

Fonte: https://cnbb.org.br/
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