Despertar musical: como dar ao seu filho o gosto pela música?

A sensibilidade artística pode ser formada desde tenra idade. Dar ao seu filho o gosto pela música não é tão difícil, se você souber a melhor forma de fazer isso
11/11/2020 09:11
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Despertar musical: como dar ao seu filho o gosto pela música?

Mãe, organista e professora de música, Marie-Pierre Picot revela aos pais algumas dicas pessoais para você transmitir ao seu filho a paixão pela música.

Como ajudar os nossos filhos a descobrir a beleza por meio da música?

Podemos fazer isso envolvendo o emocional da criança. Quando você levar seu filho a um show ou concerto, convide o melhor amigo dele! Quando ele descobrir um novo artista, mostre interesse, dê a ele um álbum do artista ou algo do tipo. Explique também por que você gosta de um artista ou de uma música específica e conte a eles a história que ela faz lembrar. Por exemplo, nas composições de Johann Pachelbel (músico alemão), o baixo sempre está presente, expressa constância, tenacidade. Suas músicas são, para mim, a imagem da tenacidade e perseverança de uma pessoa, acima da qual os desejos se manifestam, o que é bem transmitido através de uma leve melodia. Da mesma forma, explico às crianças porque não gosto de um outro tipo de música. O mesmo acontece com a pintura: diante de um quadro posso dizer que gosto das cores por exemplo, mas que não entendo o que o pintor quis dizer.

Com que tipo de música começar?

Acho que temos que oferecer oportunidades de contato com a música com frequência e com músicas diferentes! Por exemplo, você pode levar seus filhos para audições em escolas de música, concertos de Natal, orquestras. Nesses ambientes, encontramos um público entusiasmado e cheio de aplausos. O que acontece em uma sala de shows também é importante e a criança é capaz de perceber isso. Frequentemente levamos nossos filhos a concertos, até mesmo o mais novo de 4 anos que adormece com seu cobertor depois de quinze minutos! Acima de tudo, não precisamos esperar até o início da adolescência, até porque adolescentes têm a tendência de serem mais críticos negativamente. Quanto à escolha da música, tudo é bom, seja uma música clássica ou mesmo algo mais popular como os Beatles.

Finalmente, é bom que as crianças tenham a oportunidade de experimentar emoções musicais intensas. Quando eu tinha 5 anos, ouvi uma senhora cantando com um vestido vermelho vermelhão. Essa memória ainda está muito presente em mim, porque essa senhora me fez querer trabalhar com música. Mas atenção, devemos dar doses homeopáticas de música aos nossos filhos! Assim, a criança vai querer sempre descobrir mais. Além disso, ela deve sentir-se livre em seus gostos. E não é porque ele não gosta desse ou daquele tipo de música que ela será menos amada por seus pais!

Como reagir a uma criança apaixonada apenas pela música da moda?

Quando uma criança descobre um artista da moda, pergunte se o admira, se ela acha que ele é inteligente, se deseja conhecê-lo mais a fundo. O importante é fazer a criança pensar e formular a sua ideia de por que ela ama tal ou tal cantor. Temos o direito de dizer que não nos agrada, sem dizer que achamos a música ruim.


É preciso entender que os adolescentes precisam de ídolos, que precisam fazer parte de uma tribo e que gostam do que os membros daquela mesma tribo gostam. Quanto mais o jovem se sentir livre para escolher os seus artistas, mais facilmente, se necessário, deixará de ouvi-las! Cuidado com o espírito de contradição que pode ser gerado, pois se você disser a ele que esse artista é péssimo, a tendência é que ele se firmará sobre sua escolha individual, apenas para o contradizer. Então, devemos dar aos nossos filhos a liberdade de amar seus artistas, mas, ao mesmo tempo, podemos direcioná-los a outros. Por exemplo, podemos fazê-los ouvir cantores do nosso tempo, como cantores de MPB, que fazem um bom elo com a música antiga.

Como evitar que a criança não avance em seu gosto musical?

Fique relaxado em relação aos gostos das crianças, porque eles mudam rapidamente. Tudo a seu tempo! A maturidade condiciona o gosto musical. Por exemplo, aos 5 anos uma pessoa gosta de Coca-Cola, aos 40 gosta de um bom vinho. Pode-se até dizer que o “mau gosto” infantil é imperdível! É também uma questão de progressão. Inicialmente elas podem adorar Offenbach, até que passam a apreciar Bach, se estão imersas na música clássica.


Todo mundo consegue apreciar uma boa música?

Você não precisa ser um conhecedor de música para conseguir apreciá-la. Você apenas tem que aprender a se deixar levar e sonhar ao ouvir a música, sem mesmo hesitar em dizer as coisas que vêm à sua mente quando a ouve. Aprender a traduzir uma emoção musical em palavras é um bom hábito. Também é bom e importante deixar que as pessoas conheçam uma amostra musical de cada estilo, e apresentações diferentes desses estilos. Meus filhos, por exemplo, perceberam que tal apresentação os fazia querer dançar, enquanto uma outra apresentação da mesma música parecia muito morna para eles!

No entanto, algumas músicas pedem uma pequena explicação!

Obviamente a abordagem intelectual ou científica proporciona grandes emoções musicais. Minha mãe me deu de presente uma sonata de César Franck (organista e compositor belga). Pra gostar dela precisei ouvir muitas vezes. Percebi então que a missa de Pentecostes de Messiaen é menos acessível do que a de Clayderman! Nessas obras encontramos efeitos comparáveis aos efeitos da luz em uma aquarela.

Que conselho você daria aos pais de filhos que desejam praticar um instrumento?

O principal para mim é escolher um professor humano, pois aprender sobre música envolve fortemente o seu lado emocional. Minha filha, que está treinando uma peça de violoncelo, tenta tocar como sua professora costuma tocar, porque ela tem uma forte conexão com a professora. E, com o tempo, ela poderá ir mais fundo se desejar aprender mais. Um bom professor é também aquele que quer fazer seus alunos crescerem. Se a criança é respeitada em sua humanidade, ela se sente livre ao tocar seu instrumento. Na verdade, tocar é mostrar-se como se é!

É por isso que não hesito em dizer que não devemos escolher primeiro o instrumento, mas sim o professor. Se um bom relacionamento não se desenvolve entre professor e aluno, é melhor não insistir, pois a longo prazo, um mau professor pode até ser “tóxico” para uma criança com verdadeiro talento musical.

Fonte: https://pt.aleteia.org