Uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado do Paraná discutiu o tema da migração na manhã dessa quarta-feira, 19 de junho. A proposição da audiência partiu do deputado estadual Evandro Araújo, por solicitação da Cáritas Paraná e da Cáritas da Diocese de Jacarezinho, por ocasião da 39ª Semana do Migrante, que tem por tema “Migração e Casa Comum” e lema: “Amplia o espaço da tua Tenda” (Is 54,2).
O auditório legislativo da Casa de Leis ficou lotado por migrantes, membros do Serviço Pastoral do Migrante, da Cáritas, autoridades civis e políticas, acadêmicos, e pessoas interessadas no tema.
A audiência foi presidida pelo deputado Evandro e pela deputada estadual Cristina Silvestri. Para compor a mesa foram convidados representantes do Ministério Público, da Polícia Federal, da Igreja Católica, do âmbito universitário, de entidades que trabalham com os migrantes e alguns migrantes.
Representou nessa mesa o presidente do Regional Sul 2 da CNBB, dom Geremias Steinmetz, o secretário executivo padre Valdecir Badzinski. Em nome da Igreja Católica, compuseram a mesa também o padre Sales da Conceição Melo Nogueira, assessor do Serviço Pastoral do Migrante no Paraná; e a Márcia Ponce, secretária executiva da Cáritas Paraná.
Segundo o deputado Araújo, o primeiro objetivo da audiência foi escutar a Cáritas e os setores da sociedade que trabalham com questão da migração, a fim de potencializar as ações que já existem e criar novas políticas públicas que garantam a dignidade aos migrantes.
“Nós sabemos que a migração é uma realidade muito contundente no nosso meio, em todos os cantos do Brasil. E o Paraná é destino de várias pessoas, vindas de vários países, muitas vezes em conflito, pois estamos falando de refugiados também. Não podemos fechar os olhos para isso. Trata-se de uma questão humanitária. Somos todos irmãos e temos a necessidade de aprender a acolher. O poder público deve, em primeiro lugar ouvir, depois propor ações diante das novas demandas que precisam ser atendidas. Essa Semana do Migrante é um momento oportuno para refletirmos esse assunto da migração”, disse o deputado.
Padre Valdecir afirmou que a audiência tem uma importância nobre ao se propor a discutir a questão da migração. “O Papa Francisco tem insistido que nós vivemos numa “Casa Comum”. Se vivemos numa casa comum, somos todos irmãos. Então, os migrantes são nossos irmãos, independente da sua origem, de onde vem e em qual época chegam. Se somos irmãos, devemos cuidar uns dos outros, proteger, amparar, dar segurança como sociedade e como Igreja Católica. A nossa Constituição Federal ampara e protege os direitos dos migrantes, porém, muitas vezes, a questão fica adormecida na nossa prática. Por isso, essa audiência tem uma importância nobre”, afirmou o padre Valdecir.
Em seu discurso, padre Valdecir destacou que a questão da migração possui dois âmbitos: o civil e o da fé. “A nossa constituição Federal trata o movimento migratório como um direito humano e garante ao imigrante, em condição de igualdade com os nacionais, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade. Conforme a Lei de Migração (nº 13.445/2017)”, afirmou.
No âmbito da fé, o padre citou dois textos do Evangelho para lembrar que Jesus se identifica com a pessoa do migrante. “Na mais tenra infância, Jesus tornou-se migrante com sua família ao terem que se refugiar no Egito (Mt 2,13-18). Em outra citação do Evangelho, fica clara a identificação de Jesus com a pessoa migrante e refugiada. Ao explicar sobre o juízo final, ele diz aos discípulos que toda vez que acolheram um forasteiro em sua casa, foi a ele mesmo que o Ele mesmo que acolheram (Mt 25, 31ss)”, afirmou o padre.
Márcia Ponce, em sua exposição apresentou a Cáritas, que é a maior organização da Igreja Católica no mundo, atuando em mais de 170 países e territórios. Ela frisou que uma das realidades atuais da migração são os refugiados e deslocados internos forçados por questões climáticas. “Nós estamos vivendo isso no mundo todo. As pessoas estão tendo que sair por questões climáticas, por catástrofes ambientais provocadas, muitas vezes pela mão humana. Não estamos vendo que isso afeta diretamente pessoas”, afirmou Márcia.
Segundo Márcia, as estimativas de especialistas no assunto é de que, até 2050, haja cerca de 1,2 bilhão de pessoas tendo que se deslocar forçadamente, devido a questões climáticas. “Isso é uma tragédia, o mundo precisa parar e olhar para isso”, afirmou.
Padre Sales, iniciou sua fala destacando a importância da sensibilidade de ouvir o migrante. “Geralmente, colocamos a migração num mesmo balaio. É tudo migrante que chega e precisa de comida, de casa, e não é bem assim. Precisamos fazer essa distinção dos elementos e dos atores que chegam nos determinados espaços. A necessidade das mulheres não é a mesma das crianças, assim como não é a mesma dos idosos e nem dos jovens. Nós precisamos distinguir os rostos dos migrantes e as suas necessidades”, disse o padre.
Ao finalizar seu discurso, padre Sales pediu que a questão da migração seja olhada com esperança. “Todo migrante carrega consigo uma sacola, uma bagagem. Uma bagagem material e imaterial. Precisamos olhar para essa bagagem imaterial, pois ali vem muita riqueza, elementos da cultura, partilha de vida e contribuição para o desenvolvimento do lugar aonde chegam. Olhemos para a migração com olhar de esperança”, finalizou padre Sales.
A final da audiência, padre Valdecir solicitou a palavra e pediu para rezar a oração do Pai-Nosso e conceder a bênção aos presentes. Assim ele solicitou à presidente da audiência: “Os migrantes deixam tanta coisa em seu país, mas não deixam a fé. Deus vem junto. Aqui é um ambiente secular, somos de diversas confissões religiosas, mas gostaria de rezarmos um Pai-nosso e, se me permitirem dar a bênção final”.
A audiência pública foi transmitida ao vivo pela TV Assembleia do Paraná e está disponível no Youtube: