Padre Arturo Sosa: a guerra é um problema de todos nós

O Prepósito Geral dos Jesuítas, Padre Arturo Sosa Abascal, concedeu uma entrevista ao Vatican News por ocasião dos 400 anos da Canonização de seu fundador, Santo Inácio de Loyola, e de outro grande coirmão, Francisco Xavier. Ambos foram canonizados com Teresa de Ávila, Filipe Neri e Isidoro, o agricultor. Padre Sosa falou também sobre a tragédia da guerra, que está manchando de sangue o Leste europeu.
12/03/2022 12:03
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Padre Arturo Sosa: a guerra é um problema de todos nós

Massimiliano Menichetti

A cerimônia de Canonização em 12 de março de 1622 devia ter sido só para Isidoro, o agricultor. Mas como as Causas de outros quatro Beatos tinham terminado dois meses antes, a Congregação dos Ritos decidiu dedicar a todos uma única celebração, a primeira na história da Igreja. Por isso, o Papa Gregório XV canonizou, além de Isidoro, outras grandes personalidades: Teresa de Ávila, carmelita; Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, e coirmão Jesuíta, Francisco Xavier, fundador do Oratório Filipe Neri.

Por ocasião dos 400 anos deste grande evento eclesial, o Papa Francisco, jesuíta, preside na tarde deste sábado  na igreja do “Gesù”, em Roma, a uma concelebração Eucarística, sobre a qual nos fala o Prepósito Geral da Companhia de Jesus, Padre Arturo Sosa Abascal.

Padre Sosa, esta celebração realiza-se em um momento histórico particular: período da pandemia e a guerra na Ucrânia, que abalam a humanidade. O que o senhor pode nos dizer sobre este conflito e como se pode construir a paz?

“Em primeiro lugar, gostaria de recordar que estes cinco Santos, dos quais celebramos os 400 anos de Canonização, são figuras realmente inspiradoras para todos nós. A Canonização de todos os cinco Santos, no mesmo dia, foi um evento inédito na Igreja. Depois, sobre o conflito na Ucrânia, o Santo Padre falou várias vezes, que só pode ser acompanhado pela oração. Como cristãos, sabemos que Deus atua e intervém na história da humanidade. Por isso, devemos estar em íntimo contato com o Senhor, que está presente em todos os acontecimentos humanos. Além da oração, devemos demonstrar nossa solidariedade concreta e ativa. Muitas pessoas da Igreja Católica desceram em campo para ajudar os irmãos sofredores. A ação solidária consiste também em acompanhar e entender o andamento do conflito, sem fechar os olhos, os ouvidos e cruzar os braços, mas estar em sintonia com as pessoas envolvidas. Depois, vem a política. Uma das coisas que, no meu parecer, são importantes, hoje, é reforçar o senso da cidadania planetária. Esta guerra não só um problema dos ucranianos ou dos russos ou ainda da Comunidade Europeia. O problema é de todos nós, cidadãos deste mundo, que devem incitar a política ao sentido do bem comum. Uma guerra como esta é contra a cidadania, o bem-estar das pessoas e da natureza. Então, fazer política é muito importante, do ponto de vista pessoal, como cidadão. À esfera política cabe o aspecto das negociações e da diplomacia... Tudo isso não será possível sem o grande apoio dos cidadãos do mundo e da Europa”.

Referindo-se a Santo Inácio de Loyola, o Papa Francisco diz que o discernimento é a bússola em nosso caminho tortuoso. Padre Sosa, o que o homem precisa, hoje?

“Precisa, exatamente, a aprender agir com discernimento. Quando ouço a palavra "discernimento" me vêm em mente alguns personagens bíblicos, em primeiro lugar, Abraão. A esta pessoa idosa e bem de vida o Senhor pediu para deixar tudo, inclusive sua família, e pôr-se a caminho. Mas, ele lhe perguntou: "Para aonde devo ir"? E o Senhor respondeu: "Eu vou lhe dizer o que fazer". Logo, ele devia deixar tudo sobre o controle de Deus. Eis o sentido do poder. Hoje o homem quer controlar tudo, segundo seus interesses, sem pensar no bem dos outros e no bem comum. Temos que entender que não estamos sozinhos no leme da nossa vida, mas toda a nossa história está sob o controle divino. Deus nos diz "aonde devemos ir”. Eis o significado de discernimento: aprender a ler os sinais da história, que nos mostra para aonde Deus quer levar a humanidade. Nós, como humanidade, homens e mulheres, precisamos desta sensibilidade para entender e aprender a ler os sinais dos tempos”.

Neste sentido, podemos ler também o significado do Ano Inaciano e a celebração dos 400 anos da sua Canonização, como a dos outros quatro Santos, que não se limitam só ao passado...

“Claro que não. Vivemos estes eventos como memoriais, mas também em sentido bíblico, como a fuga do Egito, sabendo que Deus sempre age em nossas vidas e no seu Povo... Os cinco Santos, dos quais celebramos quatro séculos de Canonização, tiveram a sorte de encontrar Deus, com uma profunda experiência, sobretudo em momentos difíceis das suas vidas. Estes Santos passaram por uma grande mudança; descobriram que tinham sede de Deus e precisavam da palavra evangélica... Estas pessoas saíram de si e do seu tempo para atingir as raízes da vida religiosa: Teresa de Ávila e Inácio de Loyola eram diferentes e mais profundos; Francisco Xavier, sem conhecer outras culturas, foi para outros mundos... Esta memória leva-nos a fazer a vontade de Deus e ao desejo de encontrar pessoas e culturas, com as quais compartilhar suas experiências religiosas, que nos tornam irmãos e a construir um mundo mais justo”.

No próximo domingo, 13 de março, celebramos o nono ano de Pontificado do Papa Francisco e o início do décimo. O que o senhor poderia nos dizer sobre seu coirmão Jesuíta?

“A primeira coisa é que ele continua a nos indicar o caminho do discernimento na Igreja, desde o início do seu Pontificado: ‘Devemos seguir o caminho que Deus nos indica’. Depois, seu pensamento de "ir em missão", pois Igreja é missão. Quando Francisco fala de Igreja sinodal, fala de uma Igreja em missão, do Povo de Deus em marcha, que segue o Senhor em sua missão. A única maneira de unir a grande variedade de pessoas e culturas é a missão do Senhor, a redenção da humanidade. Por isso, a Igreja missionária é também Igreja sinodal, na qual todos têm algo para fazer, dizer, mostrar e seguir a missão do Senhor”.

Fonte: http://www.vaticannews.va/pt