Papa: cuidado com a “doença da aparência

"Trata-se duma doença espiritual, que escraviza a pessoa, levando-a a tornar-se dependente da admiração dos outros"
03/03/2022 14:03
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Papa: cuidado com a “doença da aparência

OPapa Francisco fez uma dura advertência contra o que ele chamou de “doença da aparência”, que é uma verdadeira “escravidão dos olhos e da mente”.

Em sua homilia na Missa de Quarta-feira de Cinzas, o Papa afirmou:

A doença da aparência é “uma doença espiritual, que escraviza a pessoa, levando-a a tornar-se dependente da admiração dos outros. É uma verdadeira escravidão dos olhos e da mente, que nos induz a viver buscando a vanglória, de modo que conta não a pureza do coração, mas a admiração do povo; não o olhar de Deus sobre nós, mas como nos olham os outros. E não é possível viver bem, contentando-se com esta recompensa”.

Âmbitos sagrados

Segundo o Papa, a doença da aparência é tão grave que pode até atingir os âmbitos mais sagrados.

O problema é que esta doença da aparência mina também os âmbitos mais sagrados. É sobre isto que Jesus insiste hoje: também a oração, a caridade e o jejum podem tornar-se autorreferenciais. Em cada gesto, mesmo no mais belo, pode esconder-se a traça da autocomplacência. Assim o coração não é completamente livre, porque não procura o amor ao Pai e aos irmãos, mas a aprovação humana, o aplauso do povo, a sua própria glória. E tudo se pode transformar numa espécie de ficção em relação a Deus, a si mesmo e aos outros. Por isso a Palavra de Deus convida-nos a olhar o nosso íntimo para ver as nossas hipocrisias. Façamos um diagnóstico das aparências que buscamos; tentemos desmascará-las. Far-nos-á bem.

Cinzas


Então, o Papa disse que as cinzas “colocam em evidência o nada que se esconde por trás da afanosa procura das recompensas mundanas”.

Lembram-nos que o mundanismo é como o pó, que um pouco de vento arrasta. Irmãs, irmãos, não estamos no mundo para correr atrás do vento; o nosso coração tem sede de eternidade. A Quaresma é um tempo que o Senhor nos deu para voltarmos a viver, sermos curados interiormente e caminharmos para a Páscoa, para aquilo que não passa, para a recompensa junto do Pai. É um caminho de cura.

Não para mudar tudo da noite para o dia, mas para viver cada dia com um espírito novo, com um estilo diferente. Para isto servem a oração, a caridade e o jejum: purificados pelas cinzas quaresmais, purificados da hipocrisia da aparência, reencontra-se a força plena para voltar a gerar uma relação viva com Deus, com os irmãos e consigo mesmo.

Oração

A oração humilde, feita em segredo, no recanto do próprio quarto, torna-se o segredo para fazer florescer a vida no exterior, disse o Papa.

É um diálogo ardente de afeto e confiança, que consola e abre o coração. Sobretudo neste tempo de Quaresma, rezemos com os olhos fixos no Crucifixo: deixemo-nos invadir pela comovente ternura de Deus e, nas suas chagas, coloquemos as nossas e as do mundo. Não nos deixemos levar pela pressa, fiquemos em silêncio diante d’Ele.

Caridade


Nesse sentido – prosseguiu o Papa – se a oração for verdadeira, não pode deixar de se traduzir em caridade.

E a caridade liberta-nos da escravidão pior: a escravidão de nós mesmos. A caridade quaresmal, purificada pelas cinzas, reconduz-nos ao essencial, à alegria íntima que existe no dar. A esmola, dada longe dos holofotes, dá paz e esperança ao coração. Revela-nos a beleza do dar que se torna receber, permitindo assim descobrir um segredo precioso: o dar alegra mais o coração do que o receber.

Jejum

Por fim, o Papa falou sobre a importância do jejum.


Este não é uma dieta; antes, liberta-nos da autorreferencialidade da busca obsessiva do bem-estar físico, para nos ajudar a ter em forma, não o corpo, mas o espírito. O jejum leva-nos de novo a dar o justo valor às coisas. Concretamente, recorda-nos que a vida não deve estar submetida ao cenário passageiro deste mundo. E o jejum não se deve restringir apenas ao alimento: especialmente na Quaresma, deve-se jejuar daquilo que gera em nós dependência. Cada qual pense nisto, para fazer um jejum que incida verdadeiramente na sua vida concreta.

Armas do espírito

Mas – disse o Papa –, se a oração, a caridade e o jejum devem amadurecer no segredo, os seus efeitos não são secretos.

Oração, caridade e jejum não são remédios só para nós, mas para todos: podem, de facto, mudar a história. Não só porque quem sente os seus efeitos, quase sem se aperceber também os transmite aos outros, mas sobretudo porque a oração, a caridade e o jejum são os meios principais que permitem a Deus intervir na vida nossa e do mundo. São as armas do espírito e é com elas que, nesta jornada de oração e jejum pela Ucrânia, imploramos a Deus aquela paz que os homens sozinhos não conseguem construir.

Fonte: https://pt.aleteia.org
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