A destinação universal dos bens, primeiro princípio de toda a ordem ético-social

Temos apresentado análises de alguns pontos da Encíclica Centesimus annus de João Paulo II, que completou 30 anos em 2021. "Um texto que apresenta um capítulo inteiro sobre a destinação universal dos bens, um princípio da doutrina social católica infelizmente bastante ignorado. Essa ignorância dá ocasião não só à instrumentalização político-ideológica da fé cristã, como também a uma grave distorção no modo como compreendemos e vivemos as implicações éticas da nossa fé", explica Felipe Koller.
14/01/2022 17:01
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A destinação universal dos bens, primeiro princípio de toda a ordem ético-social

Vatican News

"Transformar a realidade social com a força do Evangelho, testemunhada por mulheres e homens fiéis a Jesus Cristo, sempre foi um desafio e, no início do terceiro milênio da era cristã, ainda o é. O anúncio de Jesus Cristo «boa nova» de salvação, de amor, de justiça e de paz, não é facilmente acolhido no mundo de hoje, ainda devastado por guerras, miséria e injustiças; justamente por isso o homem do nosso tempo mais do que nunca necessita do Evangelho: da fé que salva, da esperança que ilumina, da caridade que ama. A Igreja, perita em humanidade, em uma espera confiante e ao mesmo tempo operosa, continua a olhar para os «novos céus» e para a «terra nova» (2Pd 3, 13), e a indicá-los a cada homem, para ajuda-lo a viver a sua vida na dimensão do sentido autêntico. «Gloria Dei vivens homo»: o homem que vive em plenitude a sua dignidade dá glória a Deus, que lha conferiu." (Cardeal Renato Raffaele Martino, na apresentação do Compêndio da Doutrina Social)

Depois de “Na base da doutrina social, a concepção cristã de pessoa” e “Buscar a justiça, atravessar o conflito, custodiar a dignidade: o caminho da doutrina social”, o teólogo Felipe Sérgio Koller* dá sequência a sua série de reflexões sobre o pensamento social de São João Paulo II, tratando hoje da "destinação universal dos bens, primeiro princípio de toda a ordem ético-social":

"Na sua última Encíclica, Fratelli tutti, publicada em 2020, o Papa Francisco abordou entre outros temas uma das questões mais centrais da doutrina social católica: a destinação universal dos bens. Nos números 118 a 120 do documento, o Papa se dedica a repropor a função social da propriedade — mas, em alguns círculos, o tema caiu como se fosse uma novidade, ainda que nesse trecho Francisco citasse os Padres da Igreja, nomeadamente São João Crisóstomo e São Gregório Magno, e seus predecessores São Paulo VI e São João Paulo II. É da Encíclica Laborem exercens, do Papa polonês, que se extrai, por exemplo, uma das ideias mais relevantes a esse respeito: a afirmação de que “o princípio do uso comum dos bens criados para todos é o ‘primeiro princípio de toda a ordem ético-social’, é um direito natural, primordial e prioritário” (FT 120).

Estamos nos dedicando nos últimos meses ao estudo de alguns pontos da Encíclica Centesimus annus, também de João Paulo II, que completou 30 anos em 2021. É um texto que apresenta um capítulo inteiro sobre a destinação universal dos bens, um princípio da doutrina social católica infelizmente bastante ignorado. Essa ignorância dá ocasião não só à instrumentalização político-ideológica da fé cristã, como também a uma grave distorção no modo como compreendemos e vivemos as implicações éticas da nossa fé.


Fonte: https://www.vaticannews.va/pt
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