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A independência do Líbano não se reduziu à mera cessação do protetorado francês, mas marcou “a saída do país da política dos eixos, e o início de sua neutralidade” em relação às esferas geopolíticas do Ocidente e do Oriente. Também agora, na atual crise política e social que está assolando o País dos Cedros, vale a pena lembrar que a independência do Líbano e também sua economia cresceram nas fases históricas em que a nação escolheu mais decisivamente o caminho da neutralidade, enquanto a pobreza e as sujeições geopolíticas fizeram o povo libanês sofrer cada vez que as elites políticas nacionais se alinharam com um ou outro dos eixos de forças globais e regionais que se opõem há décadas no Oriente Médio.
Com este apelo renovado a reafirmar a “neutralidade libanesa”, feito na homilia da missa dominical de 22 de novembro celebrada na Sé Patriarcal de Bkerké, o patriarca de Antioquia dos Maronitas, cardeal Béchara Boutros Raï ofereceu sua contribuição para as celebrações do 77º aniversário da proclamação da independência libanesa.
A festa nacional deste ano transcorreu sem desfiles militares e demonstrações públicas, num contexto também marcado por novas medidas de confinamento adotadas para contrastar o aumento do contágio da Covid-19.
O Líbano está sem governo há mais de três meses, após a renúncia do primeiro-ministro Hassan Diab, depois das terríveis explosões no porto de Beirute em 4 de agosto.
Agora as negociações para a formação de um novo governo estão paralisadas devido aos vetos cruzados entre as principais forças políticas e os confrontos entre o primeiro ministro designado, o muçulmano sunita Saad Hariri, e o chefe de Estado, o cristão maronita Michel Aoun, sobre o mecanismo de nomeação dos ministros.
A paralisia da política, devido à prevalência de interesses partidários – acrescentou o patriarca em sua homilia –“aumentou a corrupção, o açambarcamento e o desperdício de fundos públicos, levando o país à falência e ao colapso”. Trata-se de um jogo voltado ao caos que, segundo o patriarca, se baseia numa verdadeira traição/distorção da Constituição libanesa.
A carta nacional – ressaltou o cardeal libanês – foi elaborada com a intenção de assegurar a coexistência inter-religiosa, o equilíbrio confessional e a participação igualitária na gestão do poder entre cristãos e muçulmanos, mas agora a estrutura institucional libanesa tornou-se refém de blocos políticos que se apresentam como representantes exclusivos das diferentes comunidades confessionais, e com base nessa identificação abusiva, com seus vetos cruzados, paralisam a vida pública nacional, visando tomar o poder em busca de interesses individuais ou sectários.
A reafirmação da “neutralidade ativa” do País dos Cedros foi exposta de modo orgânico pelo patriarca Raï no “Memorando para o Líbano e neutralidade ativa”, um documento publicado em meados de agosto passsado.
(Fides)