Primaz da Irlanda: "Fratelli tutti", documento que todos deveriam ler

"Às vezes me pergunto que impacto tem sobre nós ver um sem-teto deitado no chão, na rua, ou assistir ao vivo, nos meios de comunicação, fotos de campos de refugiados ou crianças famintas cobertas de moscas. Com quanta facilidade podemos deslocar nosso olhar, sem nunca questionar nossos valores, nosso estilo de vida, nossas atitudes?”, escreve Dom Eamon Martin ao analisar a nova Encíclica do Papa Francisco
06/10/2020 10:10
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Primaz da Irlanda:

Vatican News

"Oportuna", "provocativa", "a ser lida" com certeza. Estas são as palavras usadas arcebispo de Armagh e Primaz de toda a Irlanda, Dom Eamon Martin, em uma nota onde comenta a Encíclica do Papa Francisco "Fratelli tutti", divulgada no domingo, 4 de outubro.

"Acolho com grande favor - escreve o prelado - esta mensagem oportuna e provocadora do Papa Francisco, que nos recorda com tanta força a mensagem de amor que está no coração do Evangelho, um amor que chega a todos os nossos 'irmãos e irmãs' que compartilham nossa comum humanidade comum".

O Pontífice "escreveu esta Encíclica durante uma pandemia mundial - observa Dom Martin - um tempo que nos recorda não somente nossa ligação com o mundo, mas também a nossa fragilidade, a nossa vulnerabilidade e a necessidade comum de compaixão, amor e esperança que a fé em Deus pode dar”.

Mas não só: o documento pontifício é uma verdadeira Encíclica social, enfatiza o Primaz da Irlanda, na qual o Papa “lança um apelo especial em nome da justiça e da misericórdia pelos órfãos, os pobres, os estrangeiros, os migrantes, os refugiados e todos aqueles que estão à margem, na periferia da vida e da sociedade”.

Sob esta ótica, o Pontífice faz votos de "um mundo aberto, motivado pela amizade social e pela hospitalidade sincera para com os outros". Um desejo "particularmente empenhativo", sublinha o prelado irlandês: "Às vezes me pergunto que impacto tem sobre nós ver um sem-teto deitado no chão, na rua, ou assistir ao vivo, nos meios de comunicação, fotos de campos de refugiados ou crianças famintas cobertas de moscas. Com quanta facilidade podemos deslocar nosso olhar, sem nunca questionar nossos valores, nosso estilo de vida, nossas atitudes?”.

A verdadeira distância social, então, observa o arcebispo de Armagh, é "a maneira pela qual a grande maioria das pessoas no mundo pode seguir em frente com a própria vida aparentemente inconscientes ou 'anestesiadas' em face do tremendo sofrimento e desigualdades dos pobres e dos mais vulneráveis". A solidariedade, por outro lado, “nunca tolera qualquer atentado à vida ou à dignidade humana”.

Também forte - diz o Primaz da Irlanda - é a mensagem que o Papa Francisco envia aos líderes políticos e líderes da Igreja "sobre o diálogo, a compreensão recíproca e o esforço conjunto para ações práticas para fazer a diferença no mundo".

Somos chamados, de fato, a ter um "olhar transformado pela caridade", como o Bom Samaritano, e a mostrar "uma opção preferencial pelos mais necessitados". Esse olhar “é o coração do autêntico espírito da política”, sublinha o prelado, que a seguir acrescenta: “Fratelli tutti é uma leitura obrigatória para todos” porque “neste momento de pandemia global, o Papa Francisco nos convida nos amarmos uns aos outros como Deus nos ama, vivendo a parábola do Bom Samaritano a cada minuto de cada dia. (...) Nossa civilização não é onipotente - conclui o prelado - portanto, devemos respeitar a dignidade inata do outro com amor e apoio prático, para que o a humanidade pode progredir”.

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