Iraque, Sako: Encíclica, um documento necessário para o fim das injustiças

Do Patriarcado caldeu se eleva a esperança de que o documento do Papa Francisco sobre fraternidade e amizade social abra uma nova fase, especialmente nas áreas do mundo devastadas por guerras prolongadas e miséria. Foram retomadas as missas com os fiéis enquanto “as tensões no Oriente Médio continuam, agravadas pela pandemia e pela saúde precária”.
06/10/2020 10:10
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Iraque, Sako: Encíclica, um documento necessário para o fim das injustiças

Antonella Palermo/Mariangela Jaguraba – Vatican News

“Era necessário ouvir uma voz diferente daqueles que semeiam guerra, extremismo e mal.” O cardeal Louis Raphael I Sako, patriarca de Babilônia dos Caldeus, em Bagdá, comenta a publicação da “Fratelli tutti”, de uma terra que ainda sofre tensões políticas e miséria resultantes de conflitos no Oriente Médio.

Um chamado a todos para um despertar espiritual

“Não somos inimigos. Chega de guerra, opressão e miséria”, disse o purpurado. Ele considera o documento do Pontífice um divisor de águas que introduz “a um tempo bom para que as pessoas abram seus corações a esta voz profética”. Sublinha a importância de relançar as urgências da fraternidade, justiça, imigração e distribuição dos bens a todos. “Não é preciso ter riquíssimos e paupérrimos, é preciso perdão, sobretudo em nossas partes onde não há nada a não ser vingança.” Dom Sako também convida a aproveitar este tempo para um despertar espiritual, já que todos são chamados a um sopro renovado e lamenta que “nós cristãos perdemos um pouco nossa espiritualidade. Os muçulmanos também deveriam voltar à base de seu Alcorão, formada de um senso de tolerância, justiça e fraternidade”. “Mesmo aqueles que não creem deveriam recuperar um novo senso de cidadania para uma sociedade fraterna, solidária e justa. Acabar com o sectarismo não é compatível com os valores humanos e religiosos”, acrescenta.

Retomada das missas com os fiéis

No domingo, 4 de outubro, começou um retorno gradual dos fiéis à missa nas igrejas iraquianas, em total conformidade com as normas de saúde e higiene. “Durante sete meses as igrejas estiveram abertas, mas as missas e encontros foram todos suspensos, e para as mesquitas a mesma coisa”, disse o cardeal Sako que celebrou a Eucaristia no domingo numa pequena paróquia iraquiana. “Havia cerca de setenta pessoas que vieram com entusiasmo. Elas agradeceram a Deus por sua saúde e nós rezamos pelo fim da guerra e das guerras. Durante todo esse tempo, fizemos um trabalho de encontros com os sacerdotes para entender como devemos continuar formando o nosso povo para a doutrina cristã numa linguagem compreensível”, ressalta o purpurado.

Tensões políticas e prejuízos para a população

“Existe uma confusão, especialmente política agora, uma tensão muito forte no país entre aqueles que são a favor do Irã e aqueles que são a favor dos Estados Unidos. Isto acontece não apenas no Iraque, mas também na Síria, Líbia, Líbano e em todo o Oriente Médio. São tensões que são muito ruins para a população”, explica. “O governo está fazendo um esforço, está tomando medidas contra a corrupção e as armas. Esperamos bem”.

A pandemia e a ajuda às igrejas para os mais vulneráveis

“Temos 5 mil contagiados por dia por coronavírus”, ressalta o cardeal Sako de um país onde a Covid-19 registrou mais de 370 mil casos e mais de 9 mil mortos. “Não temos hospitais suficientes, medicamentos, medidas básicas de saúde. Todos ficam isolados em suas casas”, disse. Não tem faltado ajuda econômica para as categorias mais frágeis: “Doei dinheiro às Igrejas para ajudar aqueles que não têm nada, 120 mil dólares até agora, mas estamos sempre prontos a ajudar quando há necessidade. Mesmo para visitas aos doentes, estamos sempre prontos”, conclui.

Fonte: http://www.vaticannews.va/pt
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