Neste ano a Campanha da Fraternidade propõe um convite de conversão e reconhecimento da vontade de Deus, de que todos sejamos irmãos e irmãs.
A proposta vem explícita no tema: “Fraternidade e Amizade Social”, e no lema “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8). Ambos escolhidos pelo Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ainda em novembro de 2022.
Para preparar as lideranças das bases, a desenvolver e implementar a Campanha da Fraternidade durante a quaresma, a CNBB realizou encontros estaduais, no último mês de novembro. Para o encontro paranaense, realizado em Pitanga, a Arquidiocese de Cascavel inveja quatro representantes: Pe. Divo de Conto – Coordenador Arquidiocesano de Pastorais, o casal Rejane e Jerry Cristoni – Coordenador Arquidiocesano da Pastoral da Sobriedade e Cleonice Jung – Coordenadora Arquidiocesana das CEMs.
O encontro foi prolongado pelo Pe. Jean Paul Hansen, assessor de Campanhas da CNBB, que estará em Cascavel no dia 25 de janeiro, preparando as lideranças locais para a realização da Campanha da Fraternidade. Esse evento acontecerá no auditório da Catedral, a partir das 19h.
Jerry explica que a partir desse evento a campanha deverá tomar forma em nível arquidiocesano, sendo definida como ações a serem realizadas nas comunidades, que devem abranger todas as paróquias, como escolas e universidades, catequeses e círculos bíblicos.
Além de treinar os coordenadores para conduzir os trabalhos de base, a CNBB preparou um vasto material de apoio, conforme detalhado ao final dessa matéria, tendo como principal, o Texto Base, que fundamenta todos os demais e que sustenta a campanha, além de proporção um despertar, através da penitência e conversão.
Jerry e Rejane ficaram maravilhados com o aprofundamento do tema realizado pelo Pe. Jean Poul. “Este vem de encontro à realidade que a Igreja sempre está atenta, que é o movimento social e a relação humana. Percebemos que vem resgatar a convivência do relacionamento, com acolhida, amor, perdão”, disse Jerry, ao enfatizar que essa Campanha da Fraternidade faz um convite para a sociedade, de maneira geral, pois quando se fala em 'fraternidade e amizade social', é para todos. “E começa em casa, na família, com a preparação das pessoas para que saibam viver fraternalmente na comunidade”, enfatiza.
“Se não vivermos essa amizade, com bom relacionamento entre as pessoas da família, disse Rejane, também não vamos conseguir fora dela, pois os modelos de amor, afeto e partilha, estão dentro de casa, assim como os conflitos, que nos preparamos par enfrentar as adversidades sociais.
Discussões de Base
De acordo com o Pe. Claudir Vicente, coordenador de Campanhas da Arquidiocese de Cascavel, “as atividades para organizar o CF 2024, a nível arquidiocesano, iniciaram com a participação no evento estadual, e a segunda etapa se acontecerá no dia 25 de janeiro, quando será oferecida maior compreensão do tema , dos objetivos, bem como serão traçados os caminhos e metas de trabalho para essa campanha, que traz uma temática tão urgente a ser assumida pela sociedade”, disse ele, ao salientar que o terceiro momento acontece na realidade de cada paróquia.
“Ali, os líderes, munidos pelo texto base, fundamentados por textos bíblicos e motivados pela proposta da Igreja, irão iluminar as pastorais e movimentos, para assumirem o espírito da CF, levando assim cada comunidade a avanço espiritualmente na caminhada quaresmal e participando também, materialmente, com a coleta da Campanha da Fraternidade, para subsidiar projetos que visam a fraternidade e a amizade social”, explicou Pe. Claudir.
Para ele, a afirmação de que somos todos irmãos e irmãs é profundamente enraizada na fé e na compreensão cristã e tem várias dimensões que, em resumo, “Quando a Igreja afirma que somos todos irmãos, ela nos convida a considerar nossa interdependência, a cuidar uns dos outros e viver em unidade como filhos de Deus”.
Ó exemplo de Jesus
O tema é debatido durante a quaresma, quando nos preparamos para a Páscoa de Jesus. “Ele foi, é e continuará sendo sempre a nossa referência de amizade social, pois veio promover a fraternidade, fazendo-se nosso irmão”. E não tem como mensurar ou limitar a nossa responsabilidade para com o próximo, pois, como disse Pe. Claudir, “a mesma se fundamenta no princípio do amor: 'Amai-vos uns aos outros como eu vos amei'. O amor não passa, é terno, pleno”.
E para perceber quem precisa desse amor, basta nos inspirarmos na parábola do Bom Samaritano, a qual se desenvolve em torno da pergunta: Quem é o meu próximo? E Jesus sabiamente indica que para conseguir identificar quem é o meu próximo, antes que eu preciso fazer-me próximo de meus irmãos.
Rejane Tristoni destaca alguns textos bíblicos citados no texto base e no manual da CF, que levam à reflexão e são exemplos de como viver em sociedade, motivar as pessoas a querer viver a fraternidade, para viver bem, se relacionar bem. “Um primeiro passo é desconstruir os preconceitos, através de reflexões, leituras, encontros e diálogos e assim, descobrir que ninguém vive sozinho, precisamos todos do outro, mas quem é esse outro? É um ser humano dotado de defeitos e qualidades, assim como eu”, explicou ela.
Tanto que esta campanha não terá ações específicas para imigrantes ou para qualquer grupo específico, mas será igualmente contínua para todos os grupos, porque “o amor não pode ser condicionado. Quando eu condiciono não é amor, e se não é amor, não é atitude cristã”, disse pe. Claudir.
A amizade social na prática
Jerry e Rejane explicam que, de acordo com o que foi apresentado pela CNBB, através do tema: 'Fraternidade e Amizade Social', e do Lema: 'Vós sois todos irmãos e irmãs', a Campanha da Fraternidade 2024 quer fazer a caminhada quaresmal em três perspectivas: Ver, Julgar e Agir.
O VER nos leva a perceber a indiferença, a divisão e o confronto e suas consequências, bem como compreender as causas e identificar e promover iniciativas que estimulem a cultura do encontro.
O Julgar é o momento de redescobrir, a partir da Palavra de Deus, o valor da fraternidade e da amizade social para todo ser humano, compreender as situações de conflito e perceber a fraternidade como caminho para a realização pessoal e para a paz em todas as situações da vida.
O AGIR já é uma fase mais avançada, que traz à tona a consciência da necessidade de construir uma unidade superando todas as divisões e polarizações. Além de incentivar e promover iniciativas de reconciliação entre pessoas, famílias, grupos, comunidades e povos.
É, na verdade, uma proposta de enfrentamento aos problemas da sociedade atual, de exclusão, rompimento de vínculos afetivos, ideologias, entre tantos outros, mas, que se observamos, são os mesmos problemas que Jesus envolveu na sua época, tanto que Ele é o maior exemplo de amizade social que temos, pois amou e acolheu a todos, sem distinção.
“Precisamos ir de encontro a todos esses problemas, inclusive a questão das posições políticas, que estão dividindo regiões, países e até o Brasil. É um tema delicado, porém necessário de ser batido, pois se somos todos irmãos e irmãs e precisamos viver em fraternidade, precisamos antes, confrontar essas desavenças”, disse Rejane, ao enfatizar as discriminações que estão acontecendo devido à cor,
Religião e religião até por ideologia partidária, são temas que precisam ser enfrentados, para que a sociedade possa voltar a viver em harmonia.
“A Campanha da Fraternidade vem justamente apontar os conflitos que precisam ser remodelados e nos leva a fazer uma autoanálise para rever nossos conceitos, preconceitos, ideias e inclusivos, como vemos os outros”, disse Jerry.
Onde nasce a paz
Em sua encíclica ´Fratelli Tutti' o Papa escreve: “Deus criou todos os seres humanos iguais nos direitos, nos deveres e na dignidade e os chamou a conviver entre si como irmãos, a povoar a terra e a transmitir sobre ela os valores do bem, da caridade e da paz”. O Papa também buscou inspiração na amizade de São Francisco de Assis e de Santa Clara, que ensinou a vivência fraterna com suas atitudes.
“O Papa faz um resgate dessa vivência e a CNBB olha muito para isso, para o quanto é importante essa amizade social, sobre como conviver com o que pensa diferente, por meio da tolerância, do amor, do resgate, quebrando os muros do isolamento, das ideias interessantes, do cancelamento digital, dos conflitos...”, enfatizou Jerry.
“Até porque é fácil eu amar uma pessoa com a qual eu me identifico, mas a Campanha da Fraternidade nos chama para amar e respeitar aqueles que pensam diferentes. E aí precisamos olhar para as qualidades dessas pessoas e não julgar, mas aceitar as diferenças”, completou Rejane.
A pergunta é: como não agredir tanto o outro? Considerando que todos temos defeitos, que cada um é diferente, mas que os defeitos tenham a mesma qualidade. “Por trás de cada um que pensa diferente há uma pessoa, um ser humano, e pode ser alguém que faz mais obras de caridade do que eu”. Jerry diz que ao fazer essa reflexão passou a entender que todas as pessoas são importantes. “Se eu tinha algum preconceito de ideias, percebi que preciso compensar. E isso precisa ser tratado em toda a sociedade”.
Nas escolas
A educação é um caminho importante para a compreensão do respeito ao outro, à diversidade de ideias. Ler, conversar, se permitir a aprender a se relacionar. “E é possível”, disse Rejane, ao salientar que a amizade social é um tema interdisciplinar, que independe da religião, pois aprofundar a espiritualidade do ser humano, o despertar do conhecimento espiritual, ajuda a romper barreiras e a humanizar a partir da educação” .
Jerry ressalta que levar o tema às escolas é possível, porque falar do relacionamento humano é pregar o amor fraterno, o respeito, a valorização pessoal, e tudo isso é importante e necessário. “Viver o evangelho é mostrar o caminho e convidar para esse despertar. Nas escolas nascem muitos conflitos de bulling, preconceito, falta de amor. É onde precisamos de mais sensibilidade para com o outro”, disse ao afirmar que esse debate pode partir da direção e coordenação das escolas, em fazer seminários e outras ações abordadas para o tema da amizade social, sem envolver as religiões.
Aliás, ambos ressaltam que o debate sobre o tema 'Fraternidade e Amizade Social' não pode terminar com a Páscoa, mas precisa ser muito falado ao longo de todo esse ano, pois somos irmãos e irmãs em Cristo e precisamos viver isso em qualquer lugar da sociedade.
Desafios e atitudes
Ao lançar esse tema a CNBB também desafia um país que é político e ideologicamente dividido, para transformar a amizade social em atitudes, mas saiba que não será tão fácil. Há desafios. O principal deles, de acordo com o Pe. Claudir, é uma politização da Campanha da Fraternidade por parte de algumas pessoas. “Seja por parte de quem a abrace e defenda, como por parte de quem é contra porque não vê o valor e a importância da mesma”.
“Para transformar a amizade social em atitude, precisamos antes descobrir o sentido genuíno da CF, que não consiste, me fazer prevalecer a minha visão ou ideologia política, mas, iluminados pela Palavra de Deus e cheios do espírito cristão, promovendo a vida”, disse Pe. Claudir ao enfatizar que ideologia e política, quando não há o respeito pelo pensamento do outro, atrapalham a formação de uma comunidade fraterna.
Aliás, uma divisão que se estabelece devido à compreensão errônea sobre a diversidade de ideologia e opções políticas. “Essa diversidade não anula o vínculo de irmandade gerado em Jesus Cristo, apenas nos faz perceber que, quando iluminados pelo Espírito Santo, tonam-se administráveis e continuamos todos os filhos de Deus”. Educaçao Fisica. Claudir ressalta ainda que a possibilidade para que essa fraternidade aconteça, passa por uma atitude de todos nós, de fazermos a opção por um estilo de vida fraterno, pois, “Fraternidade é uma união que transcende diferenças e nos lembra que, apesar das nossas individualidades , somos todos parte de uma mesma família humana. Uma proposta que exige duas atitudes fundamentais: respeito e acolhida.”
Entre os meios para se despertar a amizade social e a fraternidade estão as novenas e os encontros bíblicos entre famílias e vizinhos. “A amizade se desenvolve a partir do encontro, do diálogo e da partilha, que nos ajudam a perceber que temos vínculos muito mais sólidos, que nos unem, do que diferenças que nos afastam. O vínculo que nos é Jesus Cristo o que nos separa são ideologias e concepções humanas”, reforçou Pe. Cláudio Vicente.
E é essa a esperança depositada nessa Campanha da Fraternidade, que convida todas as pessoas a assumirem, sendo protagonistas de uma nova sociedade marcada pela fraternidade e amizade social.
Materiais de apoio disponibilizados pela CNBB
O conjunto de lançamentos sobre a CF conta com subsídios que já fazem parte das publicações tradicionais oferecidas e traz novidades, como o roteiro com as meditações da Via Sacra e da Via Lucis , o Terço da Amizade Social e o subsídio com roteiros para Adoração Eucarística, Celebração Penitencial e Celebração Ecumênica. A editora também oferece impressos de divulgação como cartaz, cartão-postal, banners e adesivos.
O Texto-Base: É a reflexão fundamental que sustenta o caminho da CF.
CF na Escola: São subsídios especiais para os educadores católicos, do ensino fundamental ao ensino médio, que querem semear em seus alunos o espírito da “Fraternidade e amizade social”.
Círculos Bíblicos: São cinco roteiros para pequenos grupos fazerem estudos e reflexões quaresmais.
CF na Catequese - Oferece 3 roteiros catequéticos para desenvolver o tema “Fraternidade e amizade social” com crianças e adolescentes.
Adoração Eucarística e Celebrações: Roteiros para inspiração ao Santíssimo Sacramento, celebrada da penitência presidida por ministro leigo em qualquer comunidade urbana ou rural, em um dia da Quaresma e roteiro para a Celebração Ecumênica.
Terço da Amizade Social : Trata-se de um roteiro de meditações para os Mistérios do Rosário baseado no tema da CF, para grupos que se unem para rezar o terço.
Via-Sacra e Via Lucis: Roteiro com a meditação das 14 estações da Via-Sacra para a Quaresma e das 14 estações da Via-Lucis para o Tempo Pascal.
CF na Universidade: Roteiro para professores e alunos das universidades se refletem sobre o tema da CF no ambiente universitário.
CF em Família: Visa a reflexão sobre o tema e o lema da CF 2024 em 6 encontros modificados de forma orante, com cantos, leitura da Palavra de Deus e perguntas que orientam um debate contemplativo.
Economia de Francisco e Clara: Este subsídio veio em forma de 6 episódios de podcasts durante a Quaresma, oferecendo reflexões comuns entre a CF e a Economia de Francisco e Clara.
Amazônia: Reflexões comuns entre a FC e a Amazônia, com formas próprias e enriquecedoras de se tratar e aprofundar o tema da FC, que pode ser utilizado para enriquecimento pessoal ou em grupos.
Sobre a CF
“Assumida pelas Igrejas Particulares no Brasil, a Campanha da Fraternidade tornou-se expressão de comunhão, conversão e partilha. Comunhão na busca de construir uma verdadeira fraternidade; conversão na tentativa de deixar-se transformar pela vida fecundada pelo Evangelho; partilha como visibilização do Reino de Deus que registra a ação da fé, o esforço do amor, a constância na esperança em Cristo Jesus (Cf. 1Ts 1,3)”, diz o texto de apresentação, publicado no site oficial da CF.
Essa tem como objetivos permanentes:
1 – Despertar o espírito comunitário e cristão no povo de Deus, comprometendo, em particular, os cristãos na busca do bem comum;
2 – Educar para a vida em fraternidade, a partir da justiça e do amor, exigência central do Evangelho;
3 – Renovar a consciência da responsabilidade de todos pela ação da Igreja na evangelização, na promoção humana, em vista de uma sociedade justa e solidária (todos devem evangelizar e todos devem sustentar a ação evangelizadora e libertadora da Igreja)”.
A coleta da Campanha realizada como um dos gestos concretos de conversão quaresmal tem realizado um bem imenso no cuidado para com os pobres.