Pais inspiradores

Celebrar a importância do papel paterno na vida familiar é algo que ocorre há mais de quatro mil anos
17/08/2023 11:08
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Pais inspiradores

Na antiga Babilônia, o jovem Elmesu esculpiu em argila o que seria considerado o primeiro cartão de Dia dos Pais. Assim, sabe-se que as homenagens dedicadas aos pais se perpetuaram por diversas civilizações, a princípio de maneira informal.

A história mais conhecida e que resultou na criação do Dia dos Pais nos Estados Unidos tem origem no desejo de uma filha de homenagear a figura paterna. William Jackson Smart foi um agricultor e veterano de guerra norte-americano que criou sozinho seus seis filhos, entre eles um recém-nascido, após o falecimento de sua esposa durante o parto. E foi em uma missa que Sonora Louise Smart Dodd propôs ao padre a homenagem a seu pai.

Hoje são milhares de pais pelo mundo, que são símbolo de inspiração para a vida familiar. Alguns desses exemplos estão aqui nessa reportagem. E não por acaso, um deles, Vanderlei Valvassori, de Cafelândia, também decidiu assumir sozinho a criação do filho Pedro Henrique, de 4 anos (hoje com 16), após a morte da esposa Dorildi Caríssimi, que faleceu vítima de uma infecção hospitalar generalizada.

Vanderlei morava em Cascavel, onde casou-se e teve dois filhos - Tiago Rafael e filha Gabrieli, porém separou-se e a ex-esposa foi morar na Espanha, levando-os consigo. Aqui ele casou-se novamente e estava há treze anos casado quando ficou viúvo. A esposa Dorildi Caríssimi teve pedra nos rins no hospital recebeu medicação para derreter a pedra, mas ainda internada pegou uma bactéria hospitalar que devastou seu organismo e em três dias faleceu.  

Ele conta que os avós maternos e tias se ofereceram para adotar o menino, mas optou por assumir sozinho o filho. “Como eu trabalhava, contei com a ajuda de minha mãe para cuidar dele durante o dia. Foi uma batalha, pois tinha que fazer o papel de pai e de mãe ao mesmo tempo, dando banho, vestindo e alimentando-o. Uma experiência maravilhosa da qual não abri mão, mas me sinto orgulhoso por tudo o que fiz. Viramos parceiros para toda a vida,” diz Vanderlei.

No começo ele também teve momentos de depressão, que não foram fáceis. “Sempre fui de Igreja, mas não tinha grande proximidade, até que um dia meus primos me convidaram para vir morar em Cafelândia, o Pedro Henrique topou e viemos.  Aqui participei de uma missa de cura e libertação, que me despertei mais para a religiosidade. Fui conhecendo e me entregando mais”. Vanderlei enfatiza que o filho sempre o acompanhou em todos os lugares e por isso também se engajou na Igreja.

Atualmente Pedro Henrique participa do grupo de jovens e Vanderlei faz parte da equipe litúrgica, do terço dos homens e está se preparando para ser Ministro da Eucaristia. No acampamento Maranata 2023, realizado no último fim de semana de maio, serviram juntos pela primeira vez.

“Viemos para Cafelândia em busca de paz e aqui foi a mudança da minha vida. Hoje entendo porque Deus colocou tudo isso no meu caminho, entendo o seu propósito, porque foi aqui que nos reencontramos”, relata o pai, que considera o filho uma bênção em sua vida. “Recebo muitos elogios atribuídos a ele. Em muitos momentos, quando percebia que estava triste, quieto no canto, eu o chamava e dizia que tudo o que estava sentindo deveria ser compartilhado comigo, que assim como ele precisava de mim eu precisava muito dele, pois só tínhamos um ao outro. E assim somos até hoje, um pelo outro”.

“Deus é perfeito e faz tudo por nós. Com o tempo vamos compreendendo o seu propósito e superando os obstáculos”.

Dos dois filhos que estão longe, apesar do contato assíduo por telefone, Vanderlei diz sentir muita saudade. Ambos já estão casados e ele agora espera ganhar um neto.

 

Luzes enviadas pelo Espírito Santo

Quando se casou com Janete, em 1984, Almir Gaspar já sonhava em formar uma linda família. “Queria um casal de filhos. Em assim aconteceu. Nasceram a Caroline Aparecida e o Cristian José”. Gaspar, mesmo sendo muito envolvido em política (era vereador e depois prefeito no município de Lindoeste) dava toda a atenção necessária aos filhos.  “Foi um tempo de muita alegria”. Porém, quando estes estavam com 12 e 9 anos abateu-se uma tragédia sobre a família. Nesse tempo ele era prefeito e tinha reuniões de trabalho em Curitiba, porém antes de sais seu filho pediu insistentemente que não fosse. Mas o compromisso falou mais alto e ele foi.

Gaspar sabia que no dia seguinte a esposa Janete viria com os filhos e duas funcionárias da Ação Social, para Cascavel, onde participaria de um treinamento e as crianças de aula de música. “Durante o dia, enquanto circulava pelos corredores do governo, sentia um aperto no coração e um sentimento ruim, mas só liguei para casa quando cheguei no hotel. Apesar do horário, o telefone tocou e ninguém atendeu”, lembra ele, que em seguida recebeu a chamada de um sobrinho lhe informando do acidente que havia ocorrido na saída de Cascavel, em frente à Expovel, devido a um desnível no asfalto. As duas caroneiras e as duas crianças faleceram na hora. Janete foi para o Hospital inconsciente, mas não se feriu gravemente.  

“Naquele momento eu me ajoelhei no chão e disse: Senhor, meus filhos estão contigo, agora irei onde quiseres”. O avião do governo o trouxe para Cascavel e foi direto ao hospital onde estava esposa. Ali coube a ele dar a notícia da morte das crianças para Janete, que, ao acordar perguntou: cadê nossos filhos? “Chegar em Lindoeste e entrar no pavilhão onde estavam os quatro caixões foi um momento muito duro”, lembra Gaspar.

Um novo caminho

Janete já participava da Igreja, mas Gaspar tocava no ministério e marcava presença nas missas, mais com o objetivo de ser visto pelo, devido à sua vida pública, do que pela sua religiosidade e fé.   “Foi no momento da dor que eu tive um encontro com Jesus. Deus teve compaixão de mim e me ouviu quando lhe pedi me ajudasse a caminhar. Naquele momento ouvi sua voz dizendo: Teus filhos estão comigo, vai por esse mundo e fala do meu amor”.

Seis dias depois de enterrar os filhos, recebeu uma benção que o fez mudar definitivamente. Gaspar tocava em bailes pela região, em dupla com Xico Menin. E quando estava ensaiando sua voz ficou afônica e não saia mais. “Quando acontecia isso era preciso vários dias de tratamento para voltar a cantar. Mas como Jesus disse-me que meus filhos estariam com ele, naquele momento falei: Jesus eu não sei como arar, mas falaste que meus filhos estão contigo, então Cristian e Carol, pedem para Jesus curar o papai. Então senti um calor grande, uma sensação diferente, mas levantei e fui cantar sem sentir mais nada. Ali foi embora toda a minha tristeza, pois passei a ver meus filhos no céu, esperando por nós, e não mais no caixão.

Preenchendo o coração

Um tempo depois Gaspar começou a pensar em outros filhos e mais uma vez e Jesus lhes falou no coração que quando completasse um ano da tragédia, não haveria mais tristeza em sua casa. Em uma viagem à Aparecida Janete visualizou Nossa Senhora das Graças lhe entregando um menino nos braços. E foi o que aconteceu. Ao completar um ano e 18 minutos da morte das crianças, chegou o Emanuel, hoje com 24 anos. Depois veio a Maria Vitória, que já está casada, a Glória Maria, o Rafael e o João Paulo, o caçula da família que tem 13 anos.

“Cada um deles tem uma história de inspiração divina, pois sempre ficamos sabendo, não por médicos, mas em oração, que teríamos mais um filho e se era menino ou menina”, conta Gaspar, lembrando que antes mesmo da Glória Maria nascer, já anunciava a chegada de uma menina loura dos olhos azuis.

Enfim, não houve mais espaço para a tristeza em casa. Ali todos cresceram acompanhando os pais no caminho da Igreja. Receberam educação e acompanhamento para a vida toda. “Plantamos a semente que está germinando em seus corações e certamente se lembrarão dos nossos ensinamentos quando precisarem”, enfatizou o ao afirmar: “Eu sou um pai feliz sim. Hoje evangelizo, oro pelas famílias e vejo que sempre é um desafio, mas não tenho do que reclamar”.  Aliás, para Gaspar, o grande desafio hoje é criar os filhos na doutrina cristã, no mundo em que estamos vivendo, cheio de ideologias, novas doutrinas e contestações.  

Mas se servir de conselho, ele diz: “Para ser um bom pai, a primeira coisa é ser um pai fiel a Deus. Se eu for justo, quando falar com Deus ele vai me atender. O pecado é uma barreira que nos afasta de Deus, então, viver os mandamentos é o primeiro passo”.

Janete confirma que Gaspar foi mesmo um bom pai. “Enquanto eu dava aulas ele ajudava muito, trocava fralda, dava papinha, banho e também era ele quem levava para o médico, dentista, e atividades extras”.

Hoje os fins de semana são preenchidos com uma boa convivência entre toda a família. “É muito bacana quando podemos estar em casa no domingo, pois nos reunimos todos e muitas vezes é o momento que aproveitamos para dar orientações também”.

Aposentado, Gaspar continua Rádio Colméia, onde evangeliza através de seu programa ‘Vida e Esperança’ e também é membro ativo no movimento RCC, onde prega em retiros e encontros. Enquanto a esposa Janete é coordenadora do Grupo de Oração São José e atua na escola da RCC da Paróquia de Santa Teresa.

“Quero dizer a todos que não tenham medo da vida. Se estás com Deus e Deus está contigo, o mal não poderá te atingir, pois Deus sempre fará o melhor por nós, no tempo Dele, e tudo o que pedirmos em oração nos será dado”, finalizou Almir Gaspar.  


Fonte: Revista Nossa Senhora Aparecida
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