Transfiguração do Senhor

04/08/2023 09:08
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Transfiguração do Senhor

Dr. Pe. Alfredo Rafael Belinato Barreto

 

“Este é meu Filho amado, escutai-o” (Lc 9,35).

 

No dia 6 de agosto celebramos a Festa da Transfiguração do Senhor. Antiga tradição da Igreja, pois desde o séc. V aparece tal celebração na prática litúrgica da Igreja do Oriente. A Transfiguração abre diante dos crentes em Jesus belo e fecundo caminho de espiritualidade. Com efeito, Jesus manda seus discípulos rezar. Toma à parte os seus prediletos, Pedro, Tiago e João, para os fazer rezar mais longa e intimamente. Estes três são imagem da Igreja, na qual os batizados tem por finalidade primeira estar sempre unidos a Jesus e seu Mistério. Para rezar Jesus gosta da solidão, a montanha onde reina a paz, a calma, onde pode ver-se a grandeza da obra divina sob o céu estrelado durante as belas noites do Oriente.

A transfiguração é uma visão do céu. É uma graça extraordinária para os três apóstolos. Não nos devemos agarrar às graças extraordinárias que são por vezes o fruto da contemplação. Pedro agarra-se a isso. Engana-se. Queria ficar lá: “Façamos três tendas”, diz. Não sabia o que dizia. A visão desaparece numa nuvem. Há aqui uma lição para nós. Entreguemo-nos à oração habitual, à contemplação, espaços por excelência do encontro e da conformação a Cristo. Os frutos desta festa são, em primeiro lugar, o crescimento da fé. Os apóstolos testemunham-nos que viram a glória do Salvador. “Não são fábulas que vos contamos, diz São Pedro (2Pd 1, 16), fomos testemunhas do poder e da glória do Redentor. Ouvimos a voz do céu sobre a montanha gritando-nos no meio dos esplendores da transfiguração: É o meu Filho bem-amado, escutai-o”. O Apóstolo Paulo encoraja a nossa esperança recordando a lembrança da glória do salvador manifestada na transfiguração e na ascensão: “Veremos a glória face a face, diz, e seremos transfigurados à sua semelhança” (2Cor 3, 18). “Esperamos o Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo terrestre e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso” (Fil 3, 21). 

Mas este mistério é, sobretudo, próprio para aumentar o nosso amor por Jesus. Nosso Senhor manifestou-nos naquele dia toda a sua beleza. O seu rosto era resplandecente como o sol. Os apóstolos, testemunhas da transfiguração, estavam totalmente inebriados de amor e de alegria. “Que bom é estar aqui”, dizia São Pedro. “Façamos aqui três tendas”. Jesus, porém, reconduz os apóstolos aos desafios da missão. Descer da montanha se faz necessário. 

Este é o meu Filho muito amado: Escutai-o. – A voz do Pai celeste diz-nos: “Escutai-o”, palavra cheia de sentido, como todas as palavras divinas. Deus dá-nos o seu divino Filho por guia, por chefe, por mestre. Escutai-o, fala-nos nas leis santas do Evangelho e nos conselhos de perfeição. Fala-nos pela sua graça, na oração, na união habitual com Ele. A palavra de Deus nunca nos falta, é a nossa docilidade que falta habitualmente. Esta palavra divina – “Escutai-o” – espera de nós uma resposta. Não basta apenas uma promessa vaga: “ei de escutar”. É preciso uma disposição habitual: “escuto, escuto sempre; falai, Senhor, o vosso servo escuta”. Escutarei no começo de cada ação, para saber o que devo fazer e como devo fazê-lo.

Fonte: Revista Nossa Senhora Aparecida
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