Jesus Cristo na vida do católico

Arquidiocese aproveita a quaresma, tempo de reflexão sobre o Mistério Pascal, para pensar também sobre a Iniciação à Vida Cristã
14/03/2023 10:03
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Jesus Cristo na vida do católico

Vamos falar do Tempo Pascal, um mistério que envolve toda a nossa vida e dá significado à nossa existência, por meio dos dons que recebemos de Deus gratuitamente.  

Quanto mais alguém mergulha nesse mistério, de maneira humilde e contemplativa, mais percebe a existência de Deus e mais o admira. De acordo com Pe. Divo de Conto, Pároco da Catedral e Coordenador Arquidiocesano de Pastoral, que está conduzindo a elaboração do Projeto de Iniciação à Vida Cristã para a Arquidiocese de Cascavel, “Esse mergulho, é feito por meio de uma porção de ritos e símbolos, que comunicam o mistério. Trata-se de uma experiência a ser vivida com o coração e que a liturgia, a palavra de Deus e a comunidade devem favorecer".

Na fé cristã, lidamos com muitos mistérios, como a Criação, a Encarnação, a Santíssima Trindade, a Páscoa, entre outros, mas todos convergem para a Páscoa, pois é na morte e ressurreição de Jesus Cristo que a criação inteira ganha sua plenitude. “No mistério pascal, Deus se revela amor e fidelidade. Ele nos comunica que está conosco todos os dias e que a fidelidade, mesmo ao preço da morte, deve ser mantida. Na entrega de Jesus, que amou os seus até o fim, a nossa vida é ressignificada”, explicou Pe. Divo, ao salientar que a catequese é o caminho que nos leva a mergulhar em profundidade, a fazer essa experiência com Jesus e a mudar de vida.

Mas as pessoas dificilmente conseguem por si mesmas, é preciso que haja a acolhida da Igreja e que essa seja capaz de apontar caminhos. 

 

A Igreja que se renova

 De acordo com Pe. Divo, a Igreja percebeu que aconteceram muitas mudanças na sociedade e precisa também fazer mudanças na forma de transmitir sua mensagem, de que ela própria é chamada a testemunhar e a viver Jesus Cristo, seus ensinamentos, sua vida, paixão, morte e ressurreição. “A centralidade da missão da Igreja está em Jesus. Isso significa que a igreja nas suas diversas ações deve ajudar as pessoas a encontrar Jesus”. 

Ou seja, pouco adianta a criança fazer todas as etapas da catequese e depois se afastar da Igreja, voltando apenas quando precisa de outro sacramento e aí se afasta de novo. “Isso precisa ser corrigido. Percebemos que a pessoa não pode ser preparada apenas para os sacramentos, mas, através deles, como cristãos, fazer um encontro com Jesus Cristo nas diversas etapas da sua vida." disse Pe. Divo ao salientar que, quando se faz a experiencia com Jesus tudo muda na sua vida.

Embora ainda não haja um roteiro pronto, há muitas iniciativas nas paróquias, experiências de conversão e de acolhimento, que partiram do querer se tornar cristão, que ajudaram a pessoa  a iniciar e aprofundar a fé cristã, e que estão sendo ouvidas e serão aproveitadas. E é também a partir dessas ideias que está sendo preparado o Projeto de iniciação à Vida Cristã da Arquidiocese.

A ideia é apresentar ao ser humano um caminho de iniciação e de aprofundamento na vida de Jesus Cristo e que vai se dando gradativamente, e levando em conta as diversas etapas de sua vida, distintamente. “Se a criança faz a catequese e depois se afasta, então é preciso rever o método, e aí está o desafio de uma conversão pastoral de nossa parte, dispensando acompanhamento mais personalizado e ajudando a vivenciar o que estão aprendendo”. 

 

O projeto em construção

 Por exemplo: do útero materno até os 8 anos a criança deve receber um acompanhamento por parte da Igreja com a preparação ao batismo e através da Pastoral da Criança, dos Coroinhas e da Missa ressaltando a criança. Após essa fase, a criança começa a catequese com duração de cinco anos para mergulharem no Mistério de Cristo através dos Sacramentos da Eucaristia e da Crisma. Em seguida, já adolescente, a Igreja precisa acompanhá-lo na fase da configuração e inserção na vida da Igreja através da Pastoral dos Adolescentes, do serviço de acólitos e outros. A próxima fase é a juventude e a a Igreja precisa oferecer um caminho de aprofundamento da vida cristã também nesta fase. E assim por diante, com acompanhamentos nas outras fase da vida deste jovem, com a preparação e vivência do Sacramento do Matrimônio, e de outras experiências sobretudo de crises e de rupturas do vínculo matrimonial, de nova união, de desemprego, drogadiçao e violência doméstica. Por fim, a Igreja precisa se fazer presente na fase da velhice, da doença e da proximidade da morte, através da assistência religiosa do sacerdote e dos ministros extraordinários da distribuição da Sagrada Eucaristia, da Pastoral da Pessoa Idosa e da Pastoral da Esperança.  “Se não estamos conseguindo fazer com que as pessoas de nossa comunidade continuem essa caminhada, temos que rever nosso processo, porque estamos errando e estamos sendo desafiados a pensar”, afirmou Pe. Divo. 

Aliás, uma das experiências iniciadas há alguns anos na Arquidiocese e que está dando certo, é a catequese matrimonial, que substitui os cursos para noivos que reuniam centenas de casais em apenas duas noites de formação. Agora ela é feita de maneira personalizada, com encontros semanais realizados ao longo de dez a doze meses, atuando no aprofundamento da fé a partir do matrimônio.

Agora o projeto de IVC quer estender essa proposta também para os cursos de batizado, incluindo pais e padrinhos, para um acompanhamento mais de perto, nas diversas dificuldades enfrentadas pela família. “Não queremos mais ser chamados só depois que aconteceu um problema, mas ter uma equipe que faça parte da vida da família e ajude a evitar ou resolver tais problemas”, disse Pe. Divo. 

O projeto de IVC da Arquidiocese ainda está em fase de elaboração e deve ficar pronto para ser implantado a partir de janeiro de 2024, mas a coordenação de Pastoral já sabe que precisa mudar a forma de atuar e ter pessoas (leigos) capacitadas. “A comunidade precisa se formar nesse caminho de iniciação e aprofundamento à vida cristã, unindo todas as suas forças vivas”, explicou Pe. Divo, lembrando que a CNBB apresentou algumas diretrizes, mas que cada diocese, a partir de sua realidade, vai construir um projeto próprio de IVC, um itinerário, com estruturas organizadas para atender e acompanhar as pessoas que chegam. 

 

A catequese é o caminho

 A Iniciação à Vida Cristã não é um chamado para iniciar a pessoa, mas acompanhá-la sempre. E a catequese é um caminho que leva à experiencia com Jesus, com mais envolvimento, mais vivência, se colocando num caminho de santidade. “Mas isso não acontece de maneira mágica, e sim a partir da acolhida da pessoa e de suas respostas, de forma gradativa, onde nada é imposto. A igreja oferece uma proposta, com a missão de evangelizar e aproximar as pessoas de Jesus”. 

Pe. Divo lembra que no período da cristandade tudo girava em torno da Igreja, mas isso ficou para traz, hoje é preciso transformar a forma de ir ao encontro, isso é coragem e humildade, como orienta o Papa Francisco, tanto que instituiu o sínodo para escutar a tudo e a todos. “Não temos solução para tudo o que aparece, mas não podemos nos fechar. Vão surgindo respostas para os problemas, que geram liberdade, vida, aproximação. O importante é encontrar a mística do encontro e que todos sejam auxiliados, não tanto a ouvir e falar sobre Deus, mas ouvir e falar com Deus, numa experiência pessoal”.

Embora a Arquidiocese esteja preparando uma nova proposta, essa caminhada já vinha sendo feita há algum tempo nas paróquias. A Nossa Senhora de Fátima, de Guaraniaçu, por exemplo, deu início a um projeto próprio ainda em 2007, quando a catequista Magda S. Bessegatto Bozaski assumiu o compromisso com os adultos. Ela começou comprando livros e se aprofundando nos estudos, a partir daí, com o apoio do Frei Gilson, elaborou uma proposta de trabalho que foi aprovada pela paróquia e colocada em prática em todo o município. 

Desde então inúmeras pessoas passaram a participar da catequese,  a cumprir os ritos e receber os sacramentos. “São cristãos que, por algum motivo deixaram de participar da vida da Igreja e se afastaram, mas agora perceberam a necessidade de voltar e, por meio da catequese, conseguem mergulhar na vida de Jesus e descobrir o amor de Deus e isso os traz de volta”, disse Magda.  

A formação catequética é anual e inicia no Pentecostes, terminando no mesmo período do ano seguinte, com a imposição dos sacramentos. Os encontros são presenciais e realizados uma vez por semana, normalmente à noite, pois os adultos trabalham durante o dia.

Desde que a paróquia começou a trabalhar nessa nova proposta, se formaram cerca de vinte turmas, todas mistas, onde para alguns faltava receber todos os sacramentos, desde o batizado, outros apenas alguns, como Eucaristia e Crisma, ou o matrimônio. 

Quando começam sempre fazem uma entrevista para conhecer a realidade de cada um, pois a catequese os leva a conhecer o processo e redescobrir a Fé, para os que abandonaram a Igreja logo após o Batismo. De acordo com Magda, “na maioria das vezes é o próprio catequizando que busca a catequese e, como o RICA nos oferece todo um ritual onde eles assumem um compromisso perante a comunidade, e pelo fato de serem adultos, e por isso mais conscientes, após a conclusão a maioria adere à oportunidade que lhes é oferecida, de se engajar em alguma pastoral ou ações da comunidade”.

 

Exemplo de engajamento

 Esse é um trabalho que, espiritualmente, tem transformado vidas. Um desses exemplos é o Marcelo Henrique Babiski Santana, que vem de uma família evangélica, da qual ele não participava. Marcelo conta que foi para a catequese por incentivo da mãe da namorada, mas logo que começou passou a compreender, a gostar e a se envolver no processo formativo.

“Como a família da namorada é muito atuante na paróquia, na parte do estágio eu entrei na liturgia, ano passado virei catequista, substituindo a Magda em alguns horários que ela tinha outros compromissos, e nesse ano assumi uma turma nas segundas-feiras a noite”, conta ele, ao ressaltar que sua vida passou a ter um novo sentido.

“Aprendemos a viver melhor não só dentro da Igreja, mas fora também, pois os ensinamentos transformam a gente para o mundo, aprendemos muita coisa, inclusive a ser mais calmo e ter paz. Hoje compreendo muito mais sobre essa espiritualidade que me envolve, a ponto de enfrentar a vergonha e participar da liturgia, a ser catequista e até a preparar a missa da catequese, que a Magda me ensinou”, relata Marcelo.

Ele diz que se sente bem melhor porque aprendeu muito, aprofundou a fé e passou a gostar de ler conteúdos relacionados para ter mais conhecimento. Quanto à sogra, agora ela diz que ele já está encaminhado, ou seja, conquistou a família.

Como catequista, Magda vê a possibilidade de incluir pessoas, como um meio de ela própria evoluir. 

“Quando se percebe que as respostas no outro são positivas nos animamos. Assim como o Marcelo, há várias outras pessoas que passaram a atuar na liturgia ou outras ações na comunidade de Guaraniaçu por meio da mistagogia, a etapa de aprofundamento daquilo que aprenderam antes do sacramento, uma espécie de estágio”, relata ela que já foi coordenadora geral da catequese da paróquia Nossa Senhora de Fátima e atualmente está responsável pela catequese de adultos, com cronograma intenso, onde auxilia as catequistas do interior também.

Quanto ao projeto de IVC que está sendo desenvolvido para a Arquidiocese, Magda e Marcelo o consideram muito importante, por se tratar de uma proposta que vem para padronizar e dar um norte a todas as paróquias.

Fonte: Revista Nossa Senhora Aparecida
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