ARTIGO | Deus é a razão da nossa esperança: algumas reflexões à luz da Escritura - por Pe. Adriano Lazarini

31/10/2022 10:10
6 minutos de leitura
ARTIGO | Deus é a razão da nossa esperança: algumas reflexões à luz da Escritura - por Pe. Adriano Lazarini

Tratar deste tema após tempos de muito temor por conta da pandemia e das guerras que assolam partes do mundo é, de fato, um desafio. Onde arvoraremos a segura âncora para a nossa existência diante dos tempestuosos mares da vida?

Partimos de uma constatação: a expectativa do futuro faz parte da essência do ser humano. Pensar no futuro é uma capacidade do ser humano, embora ele não possa vislumbrar e compreender a totalidade da obra de Deus. Contudo, por mais que seja dado ao ser humano elucubrar sobre o futuro e tentar modelá-lo com previdência, o certo é que ele não possui o controle sobre o mesmo. “O coração humano projeta o caminho, mas é o Senhor quem dirige os passos”, afirma sabiamente o autor do livro dos Provérbios (16,9). De fato, há uma incomensurável diferença entre os planos para o futuro e sua realização histórica. Quem não percebe esta límpida verdade corre o risco de ilusoriamente querer se colocar no lugar de Deus.

O ser humano não pode ter poder sobre o futuro por dois motivos. O primeiro é porque ele não pode antever as circunstâncias futuras. “Ele não sabe o que vai acontecer. Quem pode anunciar-lhe como há de ser? O ser humano não tem poder sobre o alento vital, nem para retê-lo”, afirma o autor do Eclesiastes (8,7-8). Em segundo lugar, ele é incapaz de sequer conhecer seu próprio futuro. Ninguém que elabora planos tem em si mesmo a força para realiza-los. “Se é amor ou ódio, o ser humano não sabe” (Ecl 9,1).

Diante deste quadro de incerteza desoladora, pergunta-se: qual é a esperança do ser humano? A Bíblia responde: Deus. Para Ele deve estar voltada a esperança de Israel. Por quê? Pois o Senhor é fiel no cumprimento de suas promessas: a gênese do povo, o dom da terra, a missão de Israel em meio aos povos, a permanência da casa de Davi, a época dos juízes e dos reis, o exílio da Babilônia, a volta do exílio e, sobretudo a o horizonte de uma nova aliança com Deus. A palavra do Senhor é viva e atuante. Por isso, a expectativa se funda em Deus mesmo. “Eu sou aquele que sou” (Ex 3,14). O salmista também proclama esta certeza ao dizer “nossa alma espera no Senhor, pois ele é o nosso auxílio e proteção” (Sl 33,20). O fiel diz a si mesmo “por que estás triste, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei: ele é minha salvação e meu Deus” (Sl 42,6).

Destarte, compreende-se que a esperança não é um tema secundário no Antigo Testamento, mas primordialmente ligado ao Deus das promessas aos patriarcas e aos profetas, das ameaças, das grandes transformações e da salvação definitiva. Na medida em que Deus mesmo é a essência da esperança, as esperanças são dons de Deus.

Podemos, a partir do que foi exposto, tirar duas conclusões importantes. A primeira é que o abandono do Deus da esperança em prol de uma realidade simplesmente humana com conteúdo autônomo significa exigir demais das possibilidades do ser humano ou ainda reduzir a expectativa do novo mundo. A esperança para a qual a Bíblia aponta promete uma realidade para além das possibilidades humanas de concretização. Segundo, a promessa de Deus é antídoto contra uma dupla desilusão: desesperar de um além e considerar o presente como imutável ou buscar um céu idealizado arruinando as oportunidades do tempo presente. E você, caro leitor (a), como está a sua esperança? 

Fonte: Revista Nossa Senhora Aparecida
Tags: