Toda vida importa!

Nesta edição da Revista Nossa Senhora Aparecida um tema muito pertinente no contexto atual também foi abordado: o suicídio.
06/09/2022 09:09
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Toda vida importa!

Para nos ajudar a refletir um pouco mais sobre este ponto, convidamos a Psicóloga Clínica Letícia Goulart (CRP-08/36957), e também o Assistente Social  Anderson Henrique Carboni.

 O suicídio é caracterizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um grave problema de saúde pública. De acordo com dados divulgados no ano de 2019 pela OMS, um óbito suicida ocorre a cada 40 segundos em algum local do mundo, estimando-se 1 milhão de mortes autoprovocadas por ano.

Por sua vez, o Brasil ocupa o 8º lugar no ranking do número de suicídios mundial. O Ministério da Saúde no ano de 2018 divulgou que são registrados 11 mil casos por ano, equivalente a 31 mortes por dia e a porcentagem de 5,8% dentre 100 mil habitantes. Todavia, este número pode ser ainda maior, considerando-se a subnotificação dos casos, uma vez que determinados óbitos suicidas acabam camuflados em outras situações, tais como: homicídios, mortes por overdoses, acidentes, dentre outras. 

Mesmo diante da gravidade deste cenário, o suicídio ainda é percebido como um grande tabu dentro da sociedade, caracterizando-se, assim, como um enorme desafio para profissionais de saúde e para sociedade civil como um todo. Em linhas gerais, o suicídio é considerado um fenômeno complexo, resultante da interação entre fatores psicológicos, sociais, ambientais, genéticos e culturais, existindo ainda fatores de risco que tornam alguns indivíduos mais vulneráveis ao ato, a exemplo de doenças crônicas e dor persistente, desemprego, baixo nível de escolaridade e falta de oportunidades, transtornos mentais, ser parte de grupos minoritários, trauma físico mental e sexual, perca de alguém próximo por suicídio e reincidência nas tentativa de suicídio. 

Haja vista o agravamento de diversos condicionantes de saúde mental no Brasil, o Governo Brasileiro sancionou a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio, através da Lei nº 13.819/2019, pela qual objetiva promover ações no campo da saúde mental que possibilitem a prevenção dos casos de suicídio e de automutilações nas comunidades. Nessa perspectiva, a nova política recomenda o desenvolvimento de ações educativas no âmbito da prevenção, visando levar informações, fomentar o debate sobre saúde mental com profissionais e pacientes, bem como, divulgar os canais disponíveis de assistência e ajuda aos indivíduos em sofrimento psíquico. 

Desse modo, nos anos de 2020 e 2021, através do trabalho do assistente social Anderson Henrique Carboni no Município de Cascavel – PR, desenvolveu-se o projeto intitulado “Suicídio: Informar para Prevenir” pelo qual objetivou levar informações acerca do suicídio para profissionais e pacientes na Atenção Básica de Saúde, isto porque as unidades de saúde nos bairros são as instâncias mais próximas da população, o que as torna grandes portas de entrada para demandas de saúde mental e sofrimento psíquico. O projeto trouxe informações aos profissionais, buscando aprimorar a abordagem nos casos de pensamento de morte e ideação suicida identificados no cotidiano do trabalho, fomentando a detecção precoce de sinais de risco, contribuindo para o acolhimento humanizado e cooperando para prevenção das automutilações e das mortes autoprovocadas. Também se disponibilizou material didático aos profissionais e pacientes, para continuidade do trabalho de prevenção.

O projeto também identificou através da vigilância epidemiológica do Município, no período entre março de 2020 e março de 2021, o número de 37 óbitos suicidas e 784 tentativas de suicídio ocorridas no Município de Cascavel. Também se coletou outras informações destes dados, tais como: gênero, raça, faixa etária, escolaridade e o método utilizado, com o objetivo de levantar um indicador epidemiológico pelo qual será utilizado para criar intervenções que vão de encontro com o perfil levantado, aprimorando, assim, o trabalho de prevenção.

 

Depressão

O Transtorno Depressivo Maior (TDM), comumente chamado de ‘Depressão’, é um distúrbio cerebral caracterizado pela desregulação conjunta de áreas relacionadas ao humor, energia, prazer, funções neurovegetativas (libido, sono, fome e dor) e de funções cognitivas (pensamento, memória e atenção), sendo em maior ou menor grau. Principais características: tristeza durante a maior parte do dia; sentir-se inútil, culpado e deslocado do meio; sentir-se cansado, fraco e sem energia; perda de peso ou ganho de peso; irritabilidade, desesperança, perda de interesse em atividades de prazer ou rotineiras. A existência desses sintomas potencializa pensamentos de morte e suicídio no indivíduo, sendo a depressão a segunda maior causa de incapacidade no mundo de acordo com a OMS – Organização Mundial da Saúde. 

 

Mitos comuns sobre o suicídio

  1. Quem diz que vai se matar só quer chamar atenção. Não vai realmente fazer isso - Esta afirmação é falsa. Além disso, é muito perigoso ignorar essas falas. Muitos suicidas expressaram seu desejo de morrer para outras pessoas, dias ou momentos antes de concretizar o ato. Ouvir, acolher sem preconceitos pode mudar esta situação.  
  2. Falar sobre suicídio aumenta o risco - Falso. Pelo contrário, falar sobre suicídio de forma assertiva e acolhedora, trazendo informações importantes sobre o tema, pode aliviar a angústia daqueles que possuem este pensamento, além de estimular a busca por ajuda e prevenir os casos. 
  3. Quando um indivíduo sobrevive a uma tentativa de suicídio, o mesmo já se encontra fora de perigo - Falso. Um dos períodos mais perigosos é quando a pessoa está melhorando da crise que motivou a tentativa ou ainda, quando a mesma ainda se encontra hospitalizada. Neste período, a pessoa se encontra muito fragilizada. Pode inclusive, se sentir inferiorizada por não ter conseguido êxito na tentativa. É importante ressaltar que independente de ter sobrevivido à tentativa, a pessoa ainda se encontra em ALTO RISCO, necessitando de tratamento apropriado. 

 

PEÇA AJUDA

Procure um profissional da saúde psicologia ou ligue 188 – CVV Centro de valorização da vida:

“Você pode conversar com um voluntário do CVV ligando para 188 de todo o território nacional, 24 horas todos os dias de forma gratuita.

Aqui, como em qualquer outra forma de contato com o CVV, você é atendido por um voluntário, com respeito, anonimato, que guardará estrito sigilo sobre tudo que for dito.

Nossos voluntários são treinados para conversar com todas as pessoas que procuram ajuda e apoio emocional. https://www.cvv.org.br/ligue-188/”. 

Fonte: Revista Nossa Senhora Aparecida
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