Eleições 2022: um momento chave para o país

Revista Nossa Senhora Aparecida 

Preocupada em conscientizar os eleitores sobre a responsabilidade do voto e contribuir para a formação política das pessoas, a Igreja Católica no Brasil adotou a prática de elaborar cartilhas que ajudam a motivar os cidadãos a participarem ativamente do processo político. Em seu conteúdo constam critérios que orientam e servem como subsídios a eleitores, candidatos, grupos e até aos meios de comunicação, porém, de forma apartidária e sem interferir nas escolhas individuais. 

De fato, nesse ano a eleição vai definir os administradores majoritários do país e dos estados, o que a torna de grande relevância, pois é dessa escolha que depende o futuro do país e das famílias brasileiras. 

Sendo assim, para compreender porque a Igreja, em sua missão evangelizadora, optou por participar desse processo e orientar politicamente os cidadãos, conversamos com o Coordenador Arquidiocesano da Pastoral Política e assessor parlamentar, Eloir Posser.

RV NSA: Quais os pontos de maior destaque na cartilha desse ano?

ELOIR: O material traz um compilado sobre o papel da Igreja Católica e a participação dos leigos no processo eleitoral, bem como a responsabilidade cristã na escolha dos candidatos. Aborda a democracia e suas ameaças e estabelece compromissos aos candidatos, e ainda, estabelece a política como um meio em favor da vida integral, em favor dos pobres e como uma esperança para o futuro.  

RV NSA: A criação da Pastoral Política é um caminho para a Igreja participar mais das decisões importantes de suas comunidades e do seu país?  

ELOIR: Sim. Com certeza é o caminho. Já estamos colhendo frutos desde a implantação da Pastoral Política na nossa Arquidiocese há dois anos. Por meio dela nos propomos a motivar os leigos a participar do processo eleitoral, promovemos debates com as lideranças e formação para cargos eletivos. Também estamos trabalhando ativamente com os vereadores eleitos no último pleito, o que tem trazido resultados importantes para as comunidades e servido como exemplo para outras dioceses.

RV NSA: Porque a nossa Arquidiocese decidiu participar ativamente desse do debate político?

ELOIR: Era um desejo de Dom Mauro Aparecido dos Santos (in memoriam), que repassou para outros padres e instigou a criação da Pastoral Política. Como não tínhamos um modelo pronto, tivemos que partir do início de tudo. O objetivo maior é fazer com que os leigos participem dos Conselhos Municipais e movimentos das comunidades, preparar lideranças e motivá-las a participar ativamente da política vendo-a como um serviço social e não como um cargo para seu status ou benefício próprio.

RV NSA: O Papa Francisco é um adepto dessa filosofia de construir uma política melhor. Ele é um incentivador para as bases?

ELOIR: Com certeza. Na sua Encíclica Fratelli Tutti, ele insere a política na doutrina social da Igreja, como uma das principais formas de caridade, nobreza, amor e bem comum, pois significa servir. E em vários momentos ele nos convida a participar ativamente, pois, sem uma boa política não será possível encontrar um caminho para a fraternidade e a paz universal.

RV NSA: Como você define o papel da Igreja Católica na política?

ELOIR: Muito morno até então. Há anos participo ativamente da Igreja Católica e sempre cobrei isso, pois, para muitos católicos, ´Igreja e política não se misturam’, e com isso elegemos pessoas que não nos representam, mas que estão lá com os votos dos católicos. Conheço católicos praticantes, por exemplo, que votam em candidatos que defendem o aborto... é uma incoerência, mas que ocorre por falta de orientação e discernimento, porque a Igreja falhou no seu processo de orientação, de mostrar esses aspectos aos seus fiéis e também em motivá-los a atuar na política. Esse comodismo permitiu o surgimento das tantas bandeiras pró-aborto e de dissolução da família, entre outras questões sociais importantes. Agora está começando a despertar, porque vem percebendo que uma sociedade não se constrói sem a religião e sem a política. Embora poucos, hoje já temos políticos defendemos as bandeiras da doutrina social da Igreja.  

RV NSA: Leigos na Política. Pessoas melhores construirão uma sociedade melhor?

ELOIR: Com certeza. As vagas são ocupadas. Se os bons não se colocarem a disposição, a vaga será ocupada por alguém que talvez não me represente como eu gostaria. Então essa é uma luta da Pastoral Política, motivar as pessoas de bem, que atuam em defesa dos bons princípios, a se lançarem para ocupar essas cadeiras.  

RV NSA: Como incentivou leigos à vereança, agora incentiva também ao poder legislativo?

ELOIR: Devido à recente implantação da Pastoral Política não houve tempo hábil para a preparação de candidatos para essas eleições, ainda assim lançamos a cartilha com orientações para os eleitores e candidatos e também fizemos o termo de compromisso, que foi assinado pelos candidatos que estão de acordo com os princípios defendidos pela Igreja. Esses candidatos serão apresentados pela PP às comunidades e paróquias.  

RV NSA: Que princípios são esses a serem assumidos?

ELOIR: Direito à vida, da concepção até a morte natural; defesa dos mais vulneráveis; dignidade da pessoa humana; promover a família; partir sempre do Evangelho, superando qualquer viés ideológico que se opunha a ele; orientar-se pelos princípios e valores da Doutrina Social da Igreja; e, combater qualquer tipo de corrupção.  Também vamos cobrar destinação de verbas para a região, principalmente para o Hospital Universitário, para as cirurgias eletivas.   

RV NSA: Como a Igreja vai promover o diálogo em meio às tantas rivalidades atuais?

ELOIR: A Igreja não entra nas questões partidárias ou ideológicas, mas se propõe a dialogar para buscar eleger o máximo de candidatos possível, que defendam nossos princípios e valores.

RV NSA: A palavra mais falada nos últimos tempos é ‘democracia’. O Brasil ainda é um país democrático? Corremos o risco de perder a nossa liberdade?

ELOIR: O Brasil é um país democrático, porém frágil. Não acredito que vamos perder, mas temos que ter cuidado para que seja garantida na prática, uma vez que há outros setores podando nossos direitos e interferindo na nossa democracia. Para que o povo não perca a sua liberdade precisa inclusive ter o ato de votar como um ato que visa manter nossa liberdade, a partir de uma boa escolha. 

RV NSA: Idosos, jovens, adultos. Todos precisam participar do processo eleitoral?

ELOIR: Sim. Precisamos incentivar para que todos participem. Não há pessoas mais sábias que os idosos, e os jovens precisam votar pelo seu futuro. 

RV NSA: Como escolher um bom candidato? Há um perfil ideal a ser escolhido? 

ELOIR: Para nós cristãos é muito fácil escolher, é só saber se ele defende a vida, a família e a liberdade. No entanto é preciso olhar para o histórico desse candidato, a sua vida pessoal e familiar, e não apenas para o seu discurso atual, mas saber de suas posições, atitudes e omissões também. Precisamos de pessoas que tenham competência, que se posicionem e que tenham projetos de governo que nos atendem. 

RV NSA: Como serão feitas as cobranças após as eleições?

ELOIR: Não podemos influenciar em votos, e nem os obrigar a cumprir, mas vamos criar uma comissão para acompanhar os trabalhos, inclusive para cobrar a demanda de recursos, e depois vamos divulgar para toda a comunidade se aquele candidato eleito cumpriu ou não com seus compromissos. 

Termo de Compromisso

A Pastoral Política da Arquidiocese de Cascavel lançou no último dia 5 de agosto, a campanha do voto consciente, útil e regional, com foco nos municípios da Amop.

E, no último dia 19 assinatura, realizou evento com os candidatos a deputado Estadual, Federal e ao Senado, para a assinatura do termo de compromisso daqueles que apresentaram um vida de idoneidade e se manifestaram dispostos a cumprir com os princípios e valores estabelecidos.